Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
15/02/2018
Em continuidade ao comentário passado,
soma-se aos aspectos ali destacados, com vistas a chamarmos atenção para o que
poderá ser o ano de 2018 na economia brasileira, o fato de a inflação oficial,
em porcentagem, ter potencial para quase dobrar, embora fique ao redor do
centro da meta oficial (4,5% ao ano). Com isso, o consumo das famílias, que vem
puxando timidamente o PIB, ficará mais comprometido. Especialmente porque continuamos
tendo, neste início de 2018, um pouco mais de 60% de famílias brasileiras
inadimplentes (no Rio Grande do Sul, as famílias inadimplentes em janeiro/18
eram 46,2% do total, contra 27,7% em janeiro/17). E a redução do desemprego
pouco ajuda, pois ainda temos 11,8% de desempregados, sendo que os empregos
gerados até o momento são majoritariamente informais e/ou de baixa qualidade
(mesmo que com franca redução, 2017 foi o terceiro ano consecutivo com saldo
negativo na geração de empregos no país). Portanto, de baixa remuneração (a
quantidade de pessoas empregadas com carteira assinada recuou 2% no quarto
trimestre de 2017, enquanto o percentual de trabalhadores sem carteira assinada
aumentou 5,7%)! Aliás, o rendimento médio da população brasileira fechou 2017
em R$ 2.154,00, aumentando apenas 1,6% sobre 2016, enquanto a inflação oficial
no ano passado foi de 2,95%. É bom lembrar que a média do endividamento
brasileiro era de R$ 4.400,00 por pessoa no final de 2017. Ou seja, mais do que
o dobro da renda auferida. Por outro lado, a turbulência maior está por vir na
medida em que a campanha eleitoral para Presidente da República avançar em um
contexto em que os pré-candidatos existentes não oferecem confiança. O risco de
elegermos um “populista irresponsável para com as contas públicas” é enorme. Em
tal contexto, não é por acaso que os investidores estrangeiros, em janeiro, já
frearam suas participações no mercado brasileiro. Por sua vez, grande parte dos
Estados da Federação estão quebrados, caso do Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro, o mesmo acontecendo com os municípios (no Rio Grande do Sul, 2017
terminou com 25% dos municípios no vermelho, com a situação geral devendo
piorar em 2018). Enfim, a safra de verão atual será menor, com preços médios
baixos, consolidando uma situação que já foi ruim em 2017. Ou seja, se no ano
passado os preços não reagiram, porém, houve volume produzido, neste ano o
risco é de, comparativamente, termos pouca mudança nos preços e menor volume de
produção. Portanto, 2018 será muito turbulento, podendo mesmo ser mais
complicado que 2017, confirmando, infelizmente, que estamos longe da saída da
crise econômica e de uma recuperação sustentável.