Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
09/11/2017
No final do mês de
outubro o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CoDaCE), grupo independente
formado por sete economistas brasileiros com “notório conhecimento em ciclos econômicos”,
informou que finalmente, em 2017, o Brasil saiu da recessão econômica. Esta
informação foi acompanhada de alguns importantes pontos complementares que
confirmam nossas análises passadas: 1) esta última recessão brasileira durou
bem mais tempo, tendo iniciado em 2014. Sua duração, portanto, foi de 11
trimestres ou 33 meses; 2) a perda acumulada no PIB brasileiro foi ainda maior
do que se pensava, tendo chegado a 8,6% no período (não é por nada que se
considera, esta, a maior recessão da história); 3) a recuperação iniciada já a
partir de janeiro/17 destoa do padrão observado em outros momentos recessivos,
pois é muito lenta; 4) em função desta lenta recuperação o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), informa que, considerando o aumento
populacional no período, o país somente irá recuperar a situação de 2014, no
ano de 2022; 5) tal recuperação, todavia, dependerá do ritmo anual de retomada
a partir de agora. Para ser mais exato, precisaríamos crescer 4,3% ao ano a
partir de 2019 para, em 2022, voltarmos ao estágio de 2014. Ou seja, no
somatório jogamos fora, no mínimo, oito anos. É bom lembrar que se espera
crescimento de 0,7% em 2017 e 2,6% em 2018; 6) o movimento de recuperação está
se dando muito mais devido a um cenário externo favorável, onde o crescimento
econômico está sendo retomado e os juros ainda continuam muito baixos, do que
em função do cenário interno, o qual continua com muitas incertezas em função
de uma crise política sem fim, além da enorme indefinição quanto ao que virá
com as eleições presidenciais de 2018. Como já cansamos de alertar, sem um real
ajuste fiscal, o qual depende da concretização das reformas estruturais, a
recuperação da economia brasileira poderá se transformar em voo de galinha
daqui a três anos; 7) para corroborar o ponto anterior, fica claro que a saída
da recessão está se dando sem investimentos. Ora, sem investimentos
estruturais, não há crescimento que se sustente no tempo; 8) enfim, um dos
membros do CoDaCE confirma o que já se sabia há muito tempo: “A estratégia (do
governo Lula) para sair rapidamente da recessão de 2008/2009 (provocada pela
crise internacional) gerou desequilíbrios que provocaram essa recessão longa e
profunda pela qual passamos e têm de ser corrigidos. O tempo necessário para
isso se traduz em saída lenta.” (cf. ZH-31/10/2017, pp. 10 e 12). E isto se o
dever de casa, representado particularmente pelo ajuste fiscal, for realizado.
O risco é enorme de as reformas não se realizarem a contento e, portanto, tal
ajuste fracassar, como aliás fracassou ao longo de 2017. Em resumo, a recessão
terminou, porém, a situação de crise econômica continua!