Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
19/10/2017
No
jargão econômico “voo de galinha” ocorre quando uma economia inicia um processo
de recuperação, porém, por falta de condições estruturais não consegue ir muito
longe e, pouco tempo depois, volta a recuar ou, na melhor das hipóteses,
estagna em patamares baixos. A economia brasileira, neste momento, corre este
risco. Após uma profunda recessão, iniciamos uma lenta recuperação que poderá
se cristalizar em um PIB positivo entre 0,5% e 0,7% em 2017. Alguns elementos
conjunturais, a partir da consolidação de uma equipe econômica eficiente,
começam a aparecer: inflação anualizada em 2,5% (abaixo do piso da meta);
balança comercial superavitária, podendo chegar a um saldo superior a US$ 65
bilhões no corrente ano (recorde histórico); déficit das contas externas menor
(projeção de US$ 24 bilhões para 2017, após US$ 104,1 bilhões em 2014); juro
básico em queda (atualmente 8,25% aa, contra 14,25% um ano antes); desemprego
ainda elevado, porém, em recuo; Investimentos Externos Diretos podendo chegar a
um recorde superior a US$ 70 bilhões em 2017; e câmbio estável entre R$ 3,10 e
R$ 3,20 por dólar há muito tempo. Sem entrar na qualificação destes resultados,
pois alguns deles não são consistentes, o que mais interessa no momento é
destacar que os mesmos ajudam na recuperação econômica, porém, não oferecem
suporte para que tal processo tenha duração. Há um claro sentimento de que
deveremos crescer um pouco mais em 2018 (talvez chegando entre 1,5% a 2% de
PIB), desde que a atual equipe econômica seja mantida. Após, estaremos na
encruzilhada das eleições presidenciais. Em as urnas indicando um governo em
linha com o desenvolvimentismo irresponsável, é provável que a recuperação já
se esgote no ano seguinte. Em caso contrário, ainda haveria fôlego para o país
crescer, talvez, até 2020. Depois disso, somente com fortes ajustes
estruturais, ou seja, com a efetiva realização das reformas, desde que feitas
com qualidade e profundidade. Dito de outra maneira, qualquer que seja o
cenário político nacional, sem as reformas estruturais o crescimento econômico
nacional, que agora se retoma, poderá se caracterizar como um “voo de galinha”.
Por quê? Porque o elemento central de nossa crise está na ausência de um ajuste
fiscal eficiente de nossas contas públicas. Todos os demais pontos positivos
citados acima são consequências deste aspecto. Ora, infelizmente neste quesito
a equipe econômica vem fracassando, superada pelos interesses políticos e
imediatistas dos diferentes poderes da República. A revisão para cima, em
julho, do déficit primário para este e os próximos anos, após um pacote econômico
arrecadatório em março, confirma tal cenário. Os detalhes e desafios de tal
realidade veremos no próximo comentário. (segue)