Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
07/09/2017
O resultado de 0,2% do PIB no segundo trimestre de 2017 indica,
tecnicamente, que o Brasil finalmente saiu da recessão econômica que durava mais
de dois anos. Dois trimestres com PIB positivo, após um longo período negativo,
indicam esta trajetória. Dito isso, ainda é cedo para afirmarmos que a economia
nacional está em recuperação. Até o momento, iniciamos um lento caminhar de
retomada, porém, ainda pleno de incertezas. Primeiro, porque o PIB do segundo
trimestre foi bem menor do que o 1% registrado no trimestre anterior. Segundo,
porque no acumulado de 12 meses o PIB continua negativo de 1,4%. Terceiro,
porque, em comparação com os primeiros seis meses de 2016, a variação do
crescimento de nossa economia, no primeiro semestre de 2017, foi nula. Quarto,
se no primeiro trimestre o que puxou a economia foi a agropecuária, com um
resultado pontual em função dos números da safra de verão, que não se repete no
restante do ano, no segundo trimestre a economia foi puxada pelo consumo das
famílias e pelo comércio. Visto isoladamente, uma excelente notícia após nove
trimestres consecutivos de queda em tal consumo. Todavia, se a inflação
reduzida ajuda a explicar o comportamento, o motivo principal esteve em outra
questão pontual: os recursos oriundos dos saques do FGTS, os quais não se
repetem nos próximos trimestres. Portanto, é cedo para se afirmar que as
famílias brasileiras ultrapassaram o marasmo provocado pelo alto endividamento
e forte inadimplência. Quinto ponto, e corroborando o ponto anterior, no
conjunto do primeiro semestre de 2017 o consumo das famílias ainda está
negativo em 0,6%. Sexto, e mais importante ponto, o nível de investimentos na
economia continuou se contraindo, registrando -6,5% neste segundo trimestre do
ano. Ou seja, é a 13ª contração consecutiva, o que significa mais de três anos
seguidos de resultados negativos nos investimentos. Sétimo, o resultado dos
investimentos mostra que a atual saída da recessão ainda é incipiente, pois os
motivos estruturais para que a economia inicie um processo de decolagem
consistente não estão reunidos. Enfim, as taxas de investimento e de poupança
nacionais (elementos fundamentais para sustentar o crescimento da economia), em
relação ao PIB, registradas neste segundo trimestre de 2017, confirmam
amplamente que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que consolidemos
uma recuperação. No caso dos investimentos, a taxa ficou em 15,5%, abaixo do
registrado no mesmo período de 2016, que foi de 16,7%. No caso da poupança, a
mesma ficou em 15,8%, contra 15,6% no segundo trimestre do ano passado. Ora,
tecnicamente, para o Brasil alavancar um crescimento sustentável tais taxas
deveriam se situar ao redor de 25% do PIB. A distância dá a dimensão do desafio
que ainda temos pela frente, embora o pior parece ter ficado para trás.