Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
14/09/2017
A
Bolsa de Valores brasileira, através do seu índice Ibovespa, acaba de bater seu
recorde nominal (74.319 pontos) neste dia 11 de setembro, ultrapassando o seu
pico anterior, atingido no distante 20/05/2008 (73.516 pontos). Foram
necessários quase 10 anos para a mesma realizar este feito, atingida que foi
pela crise econômico-financeira de 2007/08; pela recessão econômica brasileira;
e principalmente pelo estouro da bolha especulativa reinante na Bolsa entre
2006 e 2007. Neste último caso, os ganhos bursáteis foram muito além da
realidade econômica nacional, levando à formação de uma bolha especulativa que
estoura em maio de 2008. Afinal, os ganhos anuais bursáteis não eram
compatíveis com a geração de riqueza bruta que as empresas que compunham o
Ibovespa geravam na oportunidade (em 2007, enquanto o PIB brasileiro cresceu
6,1%, o índice ganhou 43,6%, tendo chegado a ganhos de 91% no acumulado de 2006
e 2007). Em termos reais, todavia, para a pontuação do Ibovespa se equiparar ao
melhor momento de maio de 2008 a mesma deveria atingir, hoje, 126.947. Isso
daria conta da inflação (IPCA) de 72,68% ocorrida entre maio/08 e agosto/17. Ou
seja, quem permaneceu comprado desde maio/08 está longe de recuperar o que
perdeu até o momento. Sob este ângulo há espaço para novas altas! Mas atenção: as
novas altas bursáteis (entre o início de 2016 e o dia 11/09/17 o Ibovespa
avançou 76,4%) estão indicando a presença de uma nova bolha. Isto porque, diferentemente
de 2008, hoje a economia brasileira está apenas saindo de uma brutal recessão,
com alto desemprego e uma demanda nacional endividada e inadimplente em níveis
historicamente altos, sem falar no tamanho da crise política que grassa no
país. Portanto, há uma euforia exagerada no setor financeiro nacional. Neste
sentido, a prática econômica mundial nos ensina que as crises se originam em manias, estas caracterizadas por
um padrão frenético de compras de ativos (imóveis e ações) que produz aumentos
de preços e do volume de negócios. Isto deixa as pessoas ansiosas para comprar antes que os preços subam mais. Manias
geram bolhas e vice-versa. Em algum momento, por um acontecimento qualquer, os
preços param de subir e a bolha estoura. Isto gera pânico (efeito manada) fato que leva a quedas acentuadas dos
preços de imóveis e quebra do mercado de ações. Neste momento, por exemplo, o
mercado bursátil nacional está apostando tudo em uma sólida recuperação
econômica do Brasil, quando na prática os elementos econômicos necessários para
isto estão longe de estarem reunidos no país. Enfim, há o desejo de que as
coisas aconteçam, porém, sem os fundamentos adequados para isso. Um claro
movimento irracional gerador de bolhas. No atual caso bursátil brasileiro, o
estouro da bolha virá quando o mercado perceber que entre o desejo e a
realidade há uma enorme distância.