Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
10/08/2017
A atual equipe econômica estabeleceu, dentre seus objetivos, o recuo da
taxa básica de juros (Selic). Assim, de outubro/16 a este início de agosto/17 a
mesma passou de 14,25% para 9,25% ao ano. Um recuo tão significativo quanto
necessário. Apesar disso, a economia nacional não demonstra reações dignas de
nota. Por quê? Porque, além dos fatores políticos, que são enormes, existem
três aspectos econômicos que ajudam a explicar tal comportamento. Em primeiro
lugar, tecnicamente os efeitos práticos de um recuo da Selic se dão cerca de
seis meses após o seu anúncio. Isso significa dizer que o impacto mais
importante do recuo da taxa básica começaria apenas no final do corrente ano.
Entretanto, tal efeito pode acabar sendo mínimo, frustrando expectativas. E aí
entra o segundo ponto. O juro real, que é o que de fato conta, praticamente não
baixou. O mesmo é calculado a partir da diferença entre a taxa Selic e a
inflação oficial realizadas ou previstas para o final do ano. Assim, para 2017,
a expectativa é de uma taxa Selic em 8% e uma inflação entre 3% e 3,5%. Isso
significa que nosso juro real está, em projeção, ao redor de 4,5% a 5% no
momento. Ora, entre 2010 e 2016 o juro real de nossa economia, a partir deste
raciocínio, ficou entre 4,5% e 7,5%, exceção feita em 2012, quando o governo da
época forçou uma baixa artificial de juros no mercado real, usando a Selic como
instrumento ao colocá-la em apenas 7,25% ao ano, a mais baixa taxa desde dezembro
de 1997, e 2015, quando a inflação oficial disparou a 10,67%, a mais alta desde
2002. Dito de outra forma, apesar do forte recuo da taxa Selic nos últimos
meses, a inflação caiu ainda mais rapidamente, mantendo os juros reais dentro
dos patamares históricos, ou seja, dentre os mais elevados do mundo. Enfim,
temos o terceiro ponto e o mais decisivo. O comportamento da Selic está
“descolado” do comportamento dos juros praticados na economia real. Devido ao
enorme endividamento (57,1% das famílias) e inadimplência (24,2% das famílias)
os bancos e financeiras mantêm juros estratosféricos, pois suas provisões para
calotes cresceram significativamente, encurtando o crédito disponível ao
consumo (no final de julho tais juros eram de 351% para o rotativo do cartão de
crédito; 300% para o cheque especial; 92% para os juros do comércio; 64% para o
crédito pessoal nos bancos; 147% no crédito pessoal em financeiras; e 140% na
taxa média nacional). Ora, com juros desta natureza quem deve não compra e quem
não deve pensa várias vezes antes de comprar. Com isso, não há como a economia
reagir na velocidade necessária. A recuperação parece estar se iniciando,
porém, embora ajude, a redução da Selic pouco está contribuindo diante dos
fatores estruturais que pesam sobre nossa economia, confirmando que o processo será
lento e difícil.