Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
17/08/2017
A atual equipe econômica acaba de fixar
metas menores para a inflação a partir de 2019 e 2020. Parece pouco, mas é uma
estratégia que permite sinalizar ao mercado que o governo se compromete a não
deixar a inflação oficial sair do controle e, em especial, mostra o interesse
em recuperar um dos pontos do tripé de sustentação da estabilidade econômica,
construído ainda em 1999 e desastrosamente abandonado entre 2007 e 2014. Hoje a
inflação oficial tem por centro da meta 4,5%, podendo oscilar no intervalo
entre um máximo de 6% e um mínimo de 3%. Em 2019 o centro da meta passa a 4,25%
e em 2020 a 4%. Neste último caso, o intervalo de oscilação cai para um máximo
de 5,5% e um mínimo de 2,5%, já que a tolerância em relação ao centro da meta
ficou mantida em 1,5 ponto percentual, tanto para mais quanto para menos.Com
isso o Brasil caminha para uma inflação oficial nos padrões internacionais, o
qual se situa ao redor de 3% anuais. Dito isto, pode causar estranheza o fato
de o país estabelecer um patamar mínimo de inflação quando ela recua. Afinal,
não seria ideal que a mesma fosse zerada e mesmo negativa? Não! Uma inflação
perto de zero e/ou negativa (deflação) é tão nociva quanto uma inflação
elevada, caso ela venha a durar por muito tempo. Este problema atingiu o Japão,
em diferentes oportunidades a partir da década de 1990, e particularmente
muitos países europeus depois do estouro da crise de 2007/08. Nestes últimos
meses a inflação oficial brasileira, pela inércia da economia, afundada em uma
recessão sem precedentes, rompeu o piso da meta estabelecida, recuando para
2,7% ao ano em julho passado (em junho, a inflação mensal chegou mesmo a ser
negativa). A situação ficou “tão confortável” para o governo, que o mesmo se
deu ao luxo de aumentar impostos que incidem sobre os combustíveis, um dos
elementos de forte pressão inflacionária. Dificilmente chegaremos a um período
de deflação anual, e muito menos prolongado. Todavia, vale esclarecer que a
nocividade de uma deflação se encontra no fato de que a mesma é provocada, geralmente,
por uma demanda retraída diante de um excesso de oferta. A partir daí aumenta o
índice de ociosidade da economia, com aumento agudo da concorrência, o que leva
a uma queda ainda maior dos preços. Isso leva a uma queda nos investimentos e a
uma queda no produto real do país, com aumento do desemprego. Com o tempo, uma
deflação pode provocar uma depressão econômica (um estágio ainda pior do que a
recessão). Ou seja, ninguém tem interesse que isto aconteça, especialmente em
países como o Brasil de hoje onde parte dos efeitos de uma deflação já se fazem
presentes mesmo sem ela existir. O ideal, portanto, é manter uma inflação
dentro de padrões aceitáveis. Sua manutenção requer um controle monetário
sério, longe de ações desenvolvimentistas demagógicas que tão bem conhecemos.