Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
13/07/2017
A recente reunião do G20, em Hamburgo
(Alemanha), confirmou algumas tendências e cristalizou outras tantas mudanças
no cenário multilateral mundial. A reação contrária ao encontro, de setores
organizados, mostra a necessidade de se fazer chegar os ganhos da globalização
econômica a toda sociedade internacional. Os contestadores, ao não proporem
novos caminhos, lutam, na prática, para não ficarem excluídos do processo, o
que é justo. Isso porque a globalização mundial em geral e da economia em
particular é irreversível e sabido há décadas. A globalização não é um complô
das oligarquias contra o povo, não é uma ideologia e sim o resultado de forças
complexas, onde o avanço tecnológico, a começar pelo acesso a informações, é um
dos pontos centrais, somado à vontade legítima dos países subdesenvolvidos em
obter maior acesso à riqueza internacional. Para tanto, o livre-comércio se
tornou um caminho a seguir, porém, acompanhado de uma regulação dos Estados,
através da OMC, desde que tais Estados sejam eficientes e organizados, coisa
que falta à maioria deles. A revolução tecnológica permitiu o deslocamento do
trabalho, onde o que se pensa produzir aqui é produzido no outro lado do mundo
e vendido em todas as partes do Planeta. Com isso, se acelerou as trocas, tanto
comerciais quanto de ideias e imagens. Neste contexto, alguns países
subdesenvolvidos conseguiram se inserir nas “cadeias de valor mundiais”. Em
países emergentes como China, Índia e Brasil, milhões de pessoas ficaram menos
pobres. Ir contra tal movimento é um retrocesso. Mesmo porque ele não irá parar
e sim se acelerar, e ninguém deseja ficar à margem do processo. Assim, a
globalização das trocas é sustentada pelo crescimento do progresso tecnológico.
Defender o retorno às práticas dos anos de 1960 é defender o atraso. Assim, os
Estados devem adaptar suas economias a essa nova era mundial. Quem não se
reformar tende a se marginalizar ainda mais. Dito isso, toda e qualquer mudança
deste porte provoca choques sociais importantes. Hoje o mundo vive sob a
aceleração de três grandes forças: tecnológica, globalização das trocas e o
aquecimento climático. Como a democracia enfrentará tamanha mutação? Os fluxos
migratórios incontroláveis, a perda de status social, a diluição dos corpos
intermediários e da família, e referências culturais cada vez menos presentes, levam
a ações protecionistas que, ao invés de ajudar, tencionam ainda mais o ambiente
(cf. Le Monde 05/05/17). Dentre elas, temos a política isolacionista dos EUA
sob Donald Trump; a saída do Reino Unido da União Europeia; as constantes
ameaças armadas da Coreia do Norte; a postura centrista de Putin na Rússia; e o
populismo destruidor junto a diversos países subdesenvolvidos, em especial na
América Latina. (segue)