Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
20/07/2017
A partir do quadro exposto no comentário
passado, destaca-se que a reunião do G20 mostrou uma nova recomposição de
forças, com a Alemanha, França e China, seguidos de diversos outros países,
inclusive o Brasil, defendendo o livre mercado e a continuidade das relações
multilaterais globais, contra os interesses protecionistas dos EUA, Rússia e
alguns outros seguidores. Tal embate está apenas começando! Os aliados tradicionais
dos EUA parecem iniciar uma estratégia de “represamento” aos interesses atuais
do governo norte-americano. Tal estratégia passaria pelo recurso aos atores
não-estatais, à sociedade civil, às empresas, às cidades, visando
contrabalançar as decisões de Trump. Tal esforço já foi notado por ocasião das
reações quanto à saída dos EUA do acordo de Paris sobre o clima e, agora,
ficaram nítidos na reunião do G20 em Hamburgo (Alemanha). A derrota política
dos extremistas de todos os matizes, em países como a Holanda e a França,
mostra que o mundo reage ao atraso. Isso abre novamente um grande espaço para o
avanço do livre comércio positivo, com maiores integrações comerciais regionais
e inter-regionais. É neste contexto que, se espera, o Mercosul venha a se reestruturar,
pois um acordo comercial com a União Europeia ficou novamente mais próximo,
após a paralisação das negociações desde 2004. Espera-se aumentar o intercâmbio
comercial entre as partes na razão de 50% ao que hoje existe. Portanto, a
reação mundial ao protecionismo populista que começa a ser implantado nos EUA, e
que afundou a economia de muitos países latino-americanos ultimamente, é
salutar. Afinal, se não fosse o mercado externo, a lenta recuperação da
economia brasileira, neste momento, estaria longe de ocorrer. Tanto é verdade
que nos anos de 1990 nosso país possuía apenas 70 acordos comerciais, os quais
cobriam menos de um terço de nosso comércio externo. Hoje, tais acordos chegam
a 400 e atingem a dois terços de nosso comércio com o mundo. Enfim, em termos
mundiais, ganha espaço novamente a ideia do Estado do Bem-Estar Social, pois
quanto mais eficiente ele for mais a globalização é aceita. A questão é que,
para uma nação construir um Estado deste tipo, profundas reformas em seu
funcionamento, estrutura e composição de interesses sociais e políticos devem
ser realizadas. Quem não as fizer ficará marginalizado, deixando uma minoria
usar o poder político em benefício próprio, a partir da manutenção deliberada
do atraso cultural, educacional, social e econômico dos seus cidadãos. Os
acontecimentos dos últimos anos no Brasil cristalizam muito bem como isso é
praticado e o quanto representa de perdas para a Nação, diante de um mundo cada
dia mais globalizado e em mutação permanente. Mundo este que busca, justamente,
a superação desta realidade retrógrada que hoje tentamos superar em nosso país.