Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
29/06/2017
Existe certo
consenso no Brasil de que dificilmente voltaremos ao fundo do poço econômico
que alcançamos nestes últimos tempos. Na verdade, dois adendos precisam ser
feitos a este raciocínio. O primeiro: uma coisa é chegar ao fundo do poço,
outra é sair do mesmo. O segundo: se continuarmos colocando no poder político
nacional pessoas irresponsáveis, o fundo do poço atual pode ser apenas um
estágio de um buraco econômico maior. Quanto ao primeiro ponto, lembramos que o
atual governo também perdeu a credibilidade política diante das acusações
provenientes do Ministério Público. Michel Temer não governa mais o país. No
exterior, tal realidade ficou evidente com o constrangimento vivido nas
recentes visitas à Rússia e Noruega. Aqui no país, é a equipe econômica, com
uma posição monetarista adequada, que vem segurando a economia. Todavia, sua
ação se dá nas questões conjunturais. Sem as correções estruturais, como o ajuste
fiscal e as reformas, a correção de rumo, ainda tímida, não se sustenta. E tais
ajustes estruturais dependem do Congresso Nacional e da capacidade política de
quem nos governa. Ora, estamos falando de poderes que, hoje, estão preocupados
em “salvar a pele” e não melhorar o Brasil e a vida dos brasileiros. Nesse
sentido, o governo Temer chega a acenar com um “pacote de bondades”, no velho
estilo dos recentes governos, o qual irá prejudicar as contas públicas,
comprometendo ainda mais o ajuste fiscal. Tanto é verdade que, para 2017, a equipe
econômica luta para conter o déficit público em R$ 139 bilhões, já tendo
aumentado o déficit para 2018, passando-o de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões.
Neste contexto, 2017 já está perdido e 2018 segue o mesmo caminho. Portanto,
sair do fundo do poço realmente é outra história nas condições políticas em que
nos encontramos. Quanto ao segundo ponto, lembramos que 2018 é ano de eleições
presidenciais onde, até o momento, não desponta nenhum potencial candidato
digno de nota. Em situações como esta é comum, mundo afora, a população optar
por “salvadores da Pátria” que, mais dia menos dia, levam o país para o buraco
econômico. Aliás, recentes governos “salvadores” nos trouxeram a tal caos
econômico. Portanto, no estado de coisas que nos encontramos, não é impossível a
população brasileira se dobrar a demagogias e colocar no poder, a partir de
2019, um governo que logo adiante nos faça, sim, irmos para além do fundo do
poço. Se é preciso de algo concreto para se entender o recado, olhem o que
acontece com a Venezuela, nossa vizinha.