Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
01/06/2017
O balanço de pagamentos é a radiografia das
relações econômico-financeiras de um país com o resto do mundo. No contexto
deste balanço, a conta “transações correntes” é uma das partes mais
importantes, pois demonstra o resultado do comércio do país com o mundo. Quando
esta conta é negativa significa dizer que o país mais comprou do que vendeu
bens e serviços, fato que aumenta suas obrigações (dependência) para com o
resto do mundo. O superávit, ao contrário, implica em troca de consumo presente
por consumo futuro. Em não havendo superávit, o futuro pode ser amenizado
cobrindo-se o excesso de gastos por investimentos diretos produtivos. Em estes
últimos não sendo suficientes o país recorre a empréstimos e financiamentos
externos (realização de dívida externa) e/ou recorre à participação de capitais
de curto prazo (especulativos). Todavia, é bom lembrar que, quanto maior for a exposição
a estes capitais especulativos, maior será o risco que o país assume. Pois a
realidade em 2017 mostra uma sensível melhora nas contas externas brasileiras. Após
ter alcançado um recorde negativo em 2014, quando o déficit nas transações
correntes subiu a US$ 104,2 bilhões e os investimentos externos diretos somaram
US$ 62,5 bilhões, no acumulado de 12 meses, terminados em abril de 2017, o
déficit recuou para US$ 19,8 bilhões e os investimentos diretos subiram para
US$ 84,7 bilhões. Esse comportamento permite, pelo menos, quatro reflexões: a)
a melhoria nas contas externas se deve particularmente à recessão econômica
brasileira e à desvalorização do Real neste último ano, fato que ajudou a
aumentar o superávit comercial e reduzir o déficit em transações correntes (em
2014 o saldo comercial brasileiro foi negativo em US$ 4,05 bilhões, enquanto em
2016 o mesmo foi positivo em US$ 47,68 bilhões, batendo um recorde histórico), duas
situações que levam a reduzir gastos no exterior; b) se o superávit comercial
nacional cresce nesta proporção (até o dia 21/05 do corrente ano o mesmo já
somava US$ 26,22 bilhões, contra US$ 17,24 bilhões em igual período de 2016),
não há porque o Banco Central brasileiro deixar que o Real se desvalorize. Isso
explica sua forte ação visando conter a moeda nacional ao redor de R$ 3,25 após
o estouro do escândalo Temer-JBS. Afinal, maior desvalorização da moeda é
sinônimo de pressão inflacionária pelo aumento dos preços dos produtos
importados; c) entre o final de 2014 e abril de 2017 os investidores externos
passaram a confiar mais no Brasil, especialmente após o impeachment da
presidente Dilma, elevando a entrada de recursos produtivos em 35,5% no
período; d) o ponto anterior nos traz a esta última constatação: em quanto a
nova crise política, que atinge em cheio o governo Temer, irá influenciar nas
contas externas nacionais as quais, assim como a economia interna, estavam iniciando
uma recuperação, mesmo que lenta?