Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
22/06/2017
Dando sequência à coluna passada, vale dizer que
a caixa preta do BNDES é bem mais profunda! Em 2016 Joesley Batista teria
solicitado, via o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que o presidente Temer
interviesse no BNDES a fim de que o banco não vetasse a mudança da sede para o
Exterior. Na oportunidade a ideia era ir para a Irlanda. Ou seja, a política de
subsidiar com dinheiro público as ditas “campeãs nacionais” (e aí entra, além
da JBS, as empresas de Eike Batista e muitas outras) acabou indo para o ralo da
corrupção. O BNDESPar, que é dono de 20% das ações da JBS, tentou vetar a saída
da empresa, porém, cerca de 80% das operações da mesma já estão, não na
Irlanda, mas nos EUA de Donald Trump. Além disso, no final de abril passado os
donos da JBS estavam em um grupo de empresários que reclamou da gestão de Maria
Silvia Bastos Marques no BNDES, pois a mesma estava tentando passar um “pente
fino” em todas as ações, principalmente as obscuras. Rapidamente a mesma foi
“apeada” do cargo e substituída por alguém mais afinado, em princípio, aos
interesses do Planalto. O escolhido, Sr. Paulo Rabello de Castro, embora
conhecedor da área, foi o mesmo que, na presidência do IBGE provocou desconforto
entre analistas ao mudar a metodologia nas pesquisas do comércio e serviços
para o cálculo do PIB nacional, fato que elevou o resultado de janeiro passado
(cf. ZH, 29/05/17, p. 15). Diante destes fatos, é justo imaginar que a Operação
Lava-Jato está mostrando que o roubo do dinheiro público é muito maior do que
se pensa. Não é por nada que a maioria de nossos deputados e senadores,
secundados por ministros e presidentes da República, trabalham arduamente para
frear a ação do Ministério Público e da Polícia Federal. Enquanto isso, os
brasileiros pagaram em impostos, que alimenta boa parte desta ciranda, 41,8% do
PIB nacional em 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
(IBPT). Em 2017 foram necessários 153 dias de trabalho para pagarmos todos os
impostos que sobre nós recaem. Isso é o dobro do que se trabalhava na década de
1970. Um dinheiro que não volta em serviços públicos adequados à sociedade, pois
grande parte é roubada da forma que, agora, estamos tomando conhecimento. E
isso que a caixa preta do BNDES apenas começou a ser aberta. Se quisermos um
Brasil melhor é preciso que se faça uma limpeza completa da corrupção nas
entranhas políticas do país, em todos os níveis. Isso, mesmo que a correção de
rumo de nossa economia sofra atrasos e nos deixe por mais tempo na recessão. É
melhor atacarmos definitivamente o problema nacional agora que começamos, do
que fazermos novamente uma “meia sola” que voltará a inviabilizar politicamente
o país, e obviamente sua economia, logo adiante. Resta esperar que a sociedade
brasileira acorde finalmente para tal realidade e deixe de agir como avestruz.