Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
25/05/2017
Um dos desafios para o Brasil sair da crise
econômica era superar a crise política. Infelizmente, desde que esta última se
cristalizou no país, ainda em 2005/06 com o “mensalão”, o país somente afundou
na mesma. O impeachment da ex-presidente Dilma foi apenas um capítulo do
processo, pois a ascensão de seu vice (Michel Temer), em termos de
confiabilidade e ética política, deixava a desejar. O que aliviou momentaneamente
a crise foi a consolidação de uma equipe econômica, aceita pelo mercado porque
capaz de adotar medidas de ajustes. Entretanto, era sabido que sem o ajuste
fiscal profundo, acompanhado das reformas estruturais adequadas, o ensaio de
recuperação econômica seria “um voo de galinha”. O atual governo já vinha
claudicando neste sentido ao ceder em pontos importantes das reformas,
construindo uma “meia sola” insuficiente para as necessidades dos ajustes
fiscal e econômico. Agora, com o escândalo da JBS na mesa, e todas as suas
consequências nos diferentes escalões da República, além de evidenciar que os
últimos governos (Lula, Dilma e Temer), juntamente com muitos deputados e
senadores, estiveram e estão fortemente comprometidos com a corrupção endêmica
nacional, mostra que o impacto na economia é enorme (mais uma vez). E a “caixa
preta” do BNDES apenas começou a ser aberta! As evidências até aqui existentes
mostram como o dinheiro público, através deste banco de fomento, foi utilizado
indevidamente por alguns privilegiados (somente a JBS, a partir de 2007,
praticamente ganhou cerca de R$ 10 bilhões, sem falar no caso Eike Batista, nos
financiamentos à investimentos no estrangeiro para sustentar governos afinados
com a ideologia de quem nos governava e assim por diante). O efeito imediato
sobre nossa economia é de paralisação, com a manutenção do país na recessão
após um primeiro trimestre que deu uma pequena esperança de recuperação, mesmo
que parcial. Assim, a recuperação de empregos fica comprometida (quem irá
investir diante de tal quadro político-policial?). E até o quadro se definir o
país viverá alta volatilidade cambial, bursátil e vê comprometida sua política
de redução do juro básico (Selic). No âmbito internacional, as agências de
risco voltaram a reduzir nossas notas de crédito e o Brasil passa a ser visto,
novamente, como uma “republiqueta bananeira”, onde boa parte do poder público
se vende facilmente. Se o Ministério Público e a Polícia Federal decidirem ir a
fundo, o Brasil poderá ser outro em futuro próximo, e para melhor. Mas, para
isso, temos que limpar esse cancro político que fundeou este capitalismo de
compadres entre parte dos políticos, de todos os matizes, e do empresariado
aqui instalado.