Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
15/12/2016
Além do avanço da operação Lava-Jato, devemos
saudar, neste final de ano difícil que foi 2016, alguns resultados positivos na
economia nacional. Embora ainda insuficientes, os mesmos são um alento à
construção de bases mais sólidas para sairmos do atual marasmo nos próximos
anos. Em primeiro lugar, temos a nova equipe econômica que passou a comandar o
Brasil. A mesma está em melhor sintonia com as necessidades urgentes do país.
Em segundo lugar, destaca-se a tomada de consciência de que o Estado nacional
está em situação crítica e precisa de ajustes urgentes. O avanço da PEC dos
Gastos Públicos e da Reforma Previdenciária é fundamental para a correção de
rumo do país, as quais devem ser seguidas de outras reformas fundamentais. Pode
não ser o melhor dos ajustes, mas sem ele a economia nacional não reverte o
quadro de crise. Em terceiro lugar, e de forma mais pontual, o arrefecimento da
inflação, mesmo que venha pela redução do consumo devido ao fortíssimo
endividamento e inadimplência dos brasileiros (respectivamente 59% e 40% da
população adulta), é para se comemorar (o ano pode fechar perto de 6,5%, atual
teto da meta inflacionária). Esta realidade nos leva ao quarto ponto! O governo
pode acelerar a redução da Selic, hoje em 13,75% ao ano. Apesar dos fatores
externos (possível elevação dos juros nos EUA) e internos (fragilidade ética e
política do governo), existe sim espaço para reduzirmos a Selic para 11% ao
final de 2017. A redução do juro é um importante instrumento para a retomada do
crescimento econômico. Em quinto lugar, mesmo sendo resultado de forte redução
nas importações e não da retomada das exportações, o extraordinário resultado
da balança comercial em 2016 (o ano pode terminar com superávit entre US$ 45 e
50 bilhões, talvez um recorde histórico) auxilia a melhorar as contas externas,
reduzindo fortemente o déficit da balança de transações correntes. Em sexto
lugar, e ligado ao fato anterior, o governo brasileiro parece ter conseguido
estabilizar o câmbio entre R$ 3,10 e R$ 3,50, situação que oferece maior
segurança para os negócios internacionais e demonstra que o colchão de
reservas, ao redor de US$ 370 bilhões, tem sido importante neste contexto.
Enfim, de forma geral, há o sentimento de que a economia brasileira parou de
cair e começa a gerar apoios para voltar a ficar em pé. Dito isso, é óbvio que
este conjunto de fatores ainda está sobre uma base política fraca, além de
ficar a mercê de fatores externos que podem ser mais complicados em 2017, a
começar pelas decisões a serem tomadas pelo novo governo dos EUA. Será preciso
muita responsabilidade político-econômica para não se jogar fora o pouco que se
conseguiu, além de a sociedade entender que mágicas não existem e que a
realidade exige medidas duras para, se bem executadas, curar o paciente.