Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
17/11/2016
A eleição de Donald Trump para a presidência dos
EUA poderá retardar a recuperação da economia dos EUA, com efeitos obviamente
no restante no mundo. O mercado, o setor financeiro, os investidores e os
aplicadores bursáteis apostaram todas as fichas em Hilary Clinton, pois a mesma
seria a continuidade do governo Obama, além de sua proximidade com Wall Street.
Trump seria a surpresa negativa que acabou se concretizando. Além de
despreparado para o cargo, o eleito adotou um discurso truculento e
irresponsável, no velho estilo populista, contrariando até mesmo, em alguns
aspectos, a linha do Partido Republicano, pelo qual se elegeu. Pelo lado
econômico, ao defender a qualquer custo a recuperação da economia dos EUA, sua
ação pode gerar um efeito contrário. Isso porque a mesma pode significar uma
intervenção nas ações do Banco Central estadunidense (FED), rompendo com sua
independência e criando ainda mais temor junto ao mercado em geral. Sem falar
na ideia de endurecer o tom com a China e rever os acordos internacionais do
clima. Uma intervenção no FED na tentativa de liberar mais recursos públicos na
economia forçaria uma alta inflacionária na sequência, a qual aceleraria o
aumento na taxa de juro básica dos EUA. Um aumento mais rápido e importante
neste juro significa redirecionar capitais (dólares) para os EUA, deixando os
países em geral, e os emergentes em particular, com menos recursos externos
disponíveis. Ora, países como o Brasil não têm condições de alavancar
suficientemente seu crescimento econômico sem tais recursos. Isso significa
dizer que o Banco Central brasileiro terá que rever a redução da Selic, pois
manter juro alto não é apenas arma para combater a inflação, mas também para
tornar atrativos os papéis do Tesouro brasileiro e, com isso, manter o fluxo de
entrada de capitais externos, mesmo que esses sejam especulativos. Assim, 2016 pode
muito bem fechar com 13,75% de Selic e 2017 ficar em 12% e não mais em 11%. Em
retardando a velocidade na redução dos juros, a retomada da economia nacional
fica enfraquecida. Diante de tal cenário, o Brasil pode continuar com
crescimento negativo no próximo ano. Por sua vez, em o governo Trump adotando
uma política comercial protecionista, a geração de recursos pelo aumento das
exportações ficaria igualmente comprometida. No Brasil, o forte recuo da Bovespa
assim como a importante desvalorização do Real (já beirando os R$ 3,50 por
dólar), a ponto de provocar intervenção do Bacen, são as consequências
imediatas do chamado “efeito Trump”. Outros, mais profundos, poderão vir já no
início de 2017. Resta esperar que Trump, a partir de 20 de janeiro próximo,
pratique um governo menos radical do que o seu discurso de campanha e reanime a
confiança dos mercados. Por enquanto, ainda estamos longe disso!