Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
27/10/2016
A
cada dia que passa os números de nossa economia vão confirmando que a
recuperação da mesma, se realmente ocorrer, será lenta. Os recentes dados do
Banco Central, indicando que a atividade econômica caiu 0,91% em agosto,
levando para 0,41% o recuo do PIB entre junho e agosto e, sobretudo, a 4,98% a
queda no acumulado dos oito primeiros meses de 2016, além de -5,6% nos 12 meses
terminados em agosto/16, não deixam dúvidas. Nesse sentido, o mercado voltou a
elevar a projeção de PIB negativo para 3,2% em 2016. Diante disso, o mercado já
começa a considerar que, na melhor das hipóteses, 2017 poderá assistir, talvez,
a algum crescimento da economia. Esse "talvez" corrobora nosso
sentimento de que se conseguirmos 0,5% positivo de PIB, no próximo ano, já será
motivo de comemoração. E isso, mesmo que o Copom continue reduzindo a Selic
(agora em 14% ao ano, espera-se que a mesma termine 2017 entre 11% e 12%).
Afinal, os juros reais da economia estão descolados da Selic e devem demorar a
responder ao seu recuo; a tímida recuperação industrial de meses passados
parece confirmar ter sido mais um soluço do que início de retomada consistente;
o setor de serviços continua negativo; e a agropecuária estagnada. Dito isso,
se é certo que a economia parece ter parado de cair, também é certo que ainda
está longe de sair do fundo do poço. Tanto é verdade que o recente excesso de
otimismo do mercado perdeu fôlego em setembro e outubro junto ao comércio e a
indústria (em agosto as vendas no varejo brasileiro recuaram 0,6% sobre julho,
enquanto o setor de serviços perdeu 1,6% em agosto, acumulando recuo de 4,7% em
seu PIB nos oito primeiros meses do corrente ano). Ou seja, como já se sabia,
sair desta imensa crise em que o Brasil foi colocado não tem mágica. O processo
depende de diversas ações, dentre elas o ajuste fiscal, o qual conta com a PEC
dos Gastos Públicos, e das reformas estruturais, a começar pela previdenciária.
Em tudo correndo bem, o Estado terá oito longos anos para começar a gerar
superávit primário e, com isso, auxiliar definitivamente na recuperação
econômica. Sobretudo agora que o Tesouro Nacional mostrou que o buraco nas
previdências estaduais é R$ 18 bilhões maior do que o informado pelos governos
regionais, com o rombo total das mesmas chegando a R$ 77,07 bilhões. Soma-se a
isso a reação de parte da sociedade que se nega a pagar a fatura que os
governos anteriores lhes deixaram, mesmo tendo sido, em alguns casos,
largamente favorecida pelo descalabro das contas públicas. Pelo sim ou pelo
não, o fato é que a cada dia que passa vai se confirmando que o remédio é cada
vez mais amargo a ser tomado, tamanha é a doença (crise) que temos a vencer.