Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
06/10/2016
Não passará de ilusão a recuperação da economia
brasileira em 2017 caso não ocorram o ajuste fiscal e as principais reformas
estruturais de que o Brasil precisa. Isso porque, até o momento, especula-se uma
recuperação em cima de expectativas e não sobre dados econômicos concretos. Por
enquanto, em termos de ajuste fiscal, continuamos com muito discurso e pouca
prática. O mês de agosto voltou a registrar o pior resultado em termos de
déficit primário. Nos oito primeiros meses do ano o saldo negativo, apenas da
área federal, bateu em R$ 71,4 bilhões, o pior desde 1997, quando se iniciou a
série histórica. A projeção para o acumulado do ano é de R$ 89 bilhões, ou
seja, 79% superior ao registrado em 2015. Assim, o governo terá que adotar
medidas duras até o final do ano (que se aproxima rapidamente) se quiser apenas
cumprir a meta de DÉFICIT primário de R$ 170,5 bilhões. O desajuste é tamanho,
no contexto de uma incompetência gerencial enorme, que somente os gastos
federais subiram de 10% para quase 20% do PIB nos últimos anos. Paralelamente,
retrato de uma economia em forte recessão, a arrecadação da União continuou
caindo. Em agosto o resultado foi o pior desde agosto de 2009, acumulando nos
oito primeiros meses do ano um recuo de 7,45% em relação a igual período de
2015, já descontada a inflação. Aliás, se o governo não fizer os ajustes
necessários, tomando decisões acertadas imediatamente, o país assistirá logo
adiante a uma disparada inflacionária. Tal situação coloca em xeque o movimento
de redução dos juros (Selic) que se espera venha a iniciar ainda neste 2016.
Isso sem contar com o fato de que somente reduzir a Selic já não é mais
suficiente, pois os juros de mercado (cheque especial, rotativo do cartão de crédito,
pessoa física etc.) já se descolaram há muito tempo da taxa básica, subindo
absurdamente nos últimos anos. E sem baixar os juros de forma consistente,
dentro de um contexto de melhoria real dos fundamentos, a economia brasileira
fará apenas um voo de galinha nos próximos anos. Isso porque os investimentos
continuarão muito baixos para efetivamente alavancarem o PIB para patamares de
4% a 5% anuais que necessitamos. Tal realidade tende a impedir uma retomada na
geração do emprego. Aliás, o desemprego tende a aumentar até meados de 2017 em
termos nacionais. Recentes dados do Ministério do Trabalho apontaram que o
Brasil perdeu 1,51 milhão de empregos formais em 2015, atingindo o seu pior
resultado desde 1985 (31 anos). Os números levam em conta a Rais (Relação Anual
de Informações Sociais), bem mais ampla do que os dados do Caged regularmente
informados. O número para 2016 não deverá ser melhor já que a Pnad Contínua acaba
de indicar que o desemprego nacional, no trimestre encerrado em agosto/16,
atingiu a 11,8%, ou seja, 12 milhões de pessoas que procuram emprego e não o
encontram. Com o desemprego vem a queda na renda per capita média, a qual já
estava em R$ 2.011,00 em agosto/16. A redução da renda per capita diminui o
consumo e este impede que as vendas cresçam e a produção se recomponha. Portanto,
façamos logo o dever de casa!