Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
20/10/2016
Encerramos
o comentário passado mostrando que as operações de risco junto ao Badesul chegaram
a equivaler a 198,2% do patrimônio líquido do banco, no velho estilo de que
dinheiro público é “um saco sem fundo”. Como isso nos atinge? Assim como a
conta da péssima condução da economia nacional nos últimos 10 anos no Brasil, a
conta da Petrobrás, do BNDES, do Badesul e de tantos outros órgãos públicos mal
administrados fica com o contribuinte em particular e a população em geral. No
caso do Badesul, por exemplo, se engana quem pensa que a mesma fica restrita
aos gaúchos. Isso porque 95% dos valores movimentados nas operações de crédito,
pelo banco de fomento gaúcho, têm o BNDES como origem. Ora, o dinheiro do
BNDES, assim como de outros bancos públicos brasileiros (Caixa Econômica
Federal e Banco do Brasil, por exemplo) resulta da emissão e venda de títulos
públicos, os quais geram a dívida pública nacional. Dito de outra maneira, o
enorme déficit público que o país possui hoje também é oriundo da má gestão do
BNDES e, por extensão, do Badesul e outros organismos públicos conforme o que
se demonstrou até aqui. Esse mesmo déficit que está nos levando a tomar um
remédio amargo, chamado PEC dos Gastos Públicos, por 20 anos, atingindo
educação e saúde dentre outras rubricas. O recente populismo brasileiro quase
quebrou o país, e literalmente colocou em péssima situação órgãos públicos
importantes, com o objetivo claro de se perpetuar no poder, usando o discurso
do “desenvolvimento” como engodo aos mais crédulos. Miremo-nos no exemplo, mais
uma vez da Venezuela (ver nosso comentário de 13/10/2016). O descalabro
messiânico do governo Chavez não lhe permitiu enxergar que sua única fonte de
recursos, o petróleo, poderia rapidamente se esgotar pela baixa dos preços
internacionais. Assim, continuou aprofundando o estatismo
econômico-protecionista, gerando uma inflação anual de 200%, uma penúria de
todos os bens de consumo, uma das mais profundas recessões do mundo atual,
altíssimo desemprego e finanças públicas caóticas. Junto a isso, grassa uma
corrupção generalizada, especialmente no Estado, explode a criminalidade e uma
regressão constante da democracia. As semelhanças brasileiras com a Venezuela,
em alguns destes pontos, não são meras coincidências. A diferença é que no
Brasil ainda há tempo para se reagir e mudar de rumo. Nosso cuidado agora deve
ser para que não entremos em nova onda populista, pois as tentações são grandes
e continuam presentes nas diferentes instâncias do Estado brasileiro.