Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
22/09/2016
A
atual taxa básica de juros no Brasil (Selic) está em seu maior patamar nos
últimos 10 anos. Sabedor disso o Copom, em sua reunião do dia 31/08, manteve a
mesma em 14,25% ao ano pela nona vez consecutiva. Mesmo assim, os demais juros
na economia brasileira não param de subir, se descolando do juro básico
oficial. Em agosto, o juro anual do cartão de crédito rotativo atingiu a
451,4%. O do cheque especial chegou a 296,3%. Considerando todas as
modalidades, a taxa de juros média geral para pessoa física, no Brasil,
alcançou a 155,48% em agosto do corrente ano. É a maior taxa de juros desde
agosto de 2003. Além do absurdo natural que a própria percentagem oferece, em
um país que vive uma inflação média anualizada perto de 9% (IPCA), existem
outros absurdos nesta área e que explicam muito de nossa paralisia econômica.
Em primeiro lugar, com um dinheiro assim tão caro não é de surpreender que
quase 60 milhões de brasileiros estejam inadimplentes no momento. Afinal,
muitos acabam usando o cheque especial e, às vezes, o próprio rotativo do
cartão de crédito como complemento de salário no final de cada mês. Em segundo lugar,
a maioria da população brasileira não faz cálculo e parte para tentar resolver
seu endividamento captando dinheiro em financeiras. Ora, em termos médios, o
juro das financeiras no Brasil chega a 900% ao ano. Ou seja, ao invés de buscar
dinheiro mais barato para sanar contas com juros mais altos, muitos fazem
exatamente o contrário. Em terceiro lugar, a principal causa aventada pelos
bancos brasileiros, para tais juros absurdos, é justamente o crescimento da
inadimplência. Ou seja, faz-se o bom pagador pagar a conta do mau pagador,
mesmo que para isso se esteja freando a economia. O que ninguém comenta é que
os próprios bancos, estimulados pelo governo, ajudaram a criar o problema
atual. Há alguns anos o sistema financeiro nacional se viu diante de uma abundância
de crédito raramente vista, cuja principal fonte era o Estado. Com isso fez
seus funcionários, na luta para cumprir metas internas, a convencerem seus
clientes a captarem recursos sem grandes cuidados. Inclusive junto a pessoas já
com dificuldades de pagamento (nossos subprimes). Como não podia ser diferente,
a estratégia gerou o atual estado de inadimplência que temos, obrigando os
bancos a aumentarem as provisões contra os maus pagadores e a aumentarem as
taxas de juros às despensas da recuperação da economia nacional. Em quarto
lugar, nota-se que os bancos, ao agirem de forma irresponsável na oferta de
crédito, jogaram o prejuízo para a população e as empresas do setor produtivo.
Não é por nada que, em plena crise econômica, a maior dos últimos quase 100
anos, o lucro dos bancos nacionais continuou importante e, em muitos casos, em
crescimento. Isto não é choque de capitalismo e sim sacrificar a produção e o
crescimento nacional em favor de um rentismo concentrador. (Segue)