Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
01/09/2016
Nesse
final de agosto o mercado financeiro brasileiro aumentou as projeções de
inflação para o país. Em 2016 a mesma deverá ficar em 7,34% e em 2017 algo em
torno de 5,14%. Embora com tendência de baixa, após os 10,67% em 2015, a mesma ainda
está longe do teto da meta para este ano (6,5%) e do centro da meta para 2017
(4,5%), lembrando que o teto da meta a partir de 2017 recua para 6%. Na
prática, inclusive, o quadro é mais preocupante. O IPCA-15 anualizado fechou agosto
em 8,95%. Essa realidade impede que a taxa básica de juros (Selic) seja
reduzida até o momento, embora se espere o início deste processo ainda para o
corrente ano. E sem baixar os juros torna-se difícil uma retomada do crescimento
econômico de forma consistente, apesar deste mesmo mercado projetar um PIB
positivo de 1,23% para 2017, após menos 3,16% no corrente ano. É bom lembrar
que, mesmo sendo uma recuperação pequena, pois ela se dá sobre dois anos
consecutivos anteriores muito negativos, essa retomada pode gerar alguma tensão
inflacionária adicional. Como o governo mira na recuperação do crescimento,
visando forçar um recuo no desemprego, o qual continua crescendo no país, não é
de estranhar que a política econômica atual flerte com um Real mais forte. Isso
permite importações mais baratas, que ajudam a derrubar os preços, sem
exatamente comprometerem a balança comercial (o superávit até o final da
terceira semana de agosto era de US$ 31,09 bilhões, o que permite um espaço de
manobra cambial). Mas é bom igualmente atentar para outros fatos que permitem
esperar um Real ainda mais forte, talvez na altura de R$ 3,00 por dólar, no
final deste ano, após ter atingido a R$ 4,16 em janeiro passado. Em primeiro
lugar, no front externo, enquanto o Banco Central dos EUA não aumentar o seu
juro básico haverá menos estímulo para o dólar sair dos países emergentes. Em
segundo lugar, no front interno, em o impeachment da presidente Dilma se
confirmando (no momento em que escrevíamos esta coluna o processo continuava no
Senado brasileiro), a entrada de dólares no Brasil pode aumentar na expectativa
de que, finalmente, o governo deixe de ser interino e passe a fazer o ajuste
fiscal necessário, assim como reformas estruturais importantes. Afora isso, há
de se considerar outro elemento decisivo: o governo atual promete para o início
de setembro, em se confirmando no cargo, os leilões de concessões à iniciativa
privada de parte da infraestrutura nacional (estradas, aeroportos, portos,
ferrovias e outros). Espera-se captar US$ 30 bilhões até 2017. Ora, um tal
aporte de dólares, somados ao volume especulativo que tem entrado no país
graças aos nossos elevados juros, pressionará ainda mais na direção de uma
valorização do Real. Nesse caso, a questão passa a ser a capacidade e interesse
de intervenção do Banco Central brasileiro no mercado cambial, após o novo
governo defender a livre flutuação cambial. Tudo indica que, um câmbio entre R$
3,00 e R$ 3,20, confirmadas as condições acima descritas, passa a ser aceitável
e, talvez, até mesmo desejável.