Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
25/08/2016
Há um sentimento que perpassa boa parte da
sociedade brasileira de que o pior da crise econômica nacional teria sido
superado. Alguns números e projeções no campo econômico dão a entender que sim.
Especialmente o otimismo projetado para 2017, onde um crescimento de até 1,6%
do PIB vem sendo indicado pelo governo interino, após -3,2% no corrente ano e
-3,8% em 2015. A realidade geral, no entanto, escapa da emoção e dos desejos e,
por enquanto, exige cautela. Sim, é possível esperar um 2017 melhor e, sim, é
possível dizer que o país pode estar iniciando, finalmente, uma saída do “fundo
do poço” da atual crise. Todavia, algumas condições fundamentais precisam estar
reunidas para isso realmente se confirmar na prática. Em primeiro lugar, o
processo de impeachment, cuja fase final se inicia neste dia 25/08, precisa
confirmar a continuidade do governo interino e sua equipe econômica. Em segundo
lugar, este governo precisa parar de oferecer benesses, gastando o que não
deveria, e partir efetivamente para os ajustes e reformas necessários. Em
terceiro lugar, os fundamentos da economia, salvo algumas exceções, ainda
mostram um cenário muito negativo (as empresas e famílias continuam muito
endividadas e inadimplentes; os bancos continuam restringindo o crédito e
aumentando o juro, independentemente da Selic; e o Real tende a se apreciar
ainda mais nos próximos meses devido a entrada de dólares a partir dos
programas de concessões que o governo irá lançar no início de setembro – sem
falar no capital especulativo em busca de nosso juro caso o juro básico dos EUA
não suba neste ano). Assim, se houver crescimento em 2017, o mesmo será bem
menor do que o esperado pelo governo (a FGV calcula em 0,5% em um cenário normal)
além de o processo de recuperação geral da economia ser lento nos anos
seguintes. Afora isso, o Brasil não conta, como em crises passadas, com a
recuperação da economia mundial. Ao contrário, o mundo continua enfrentando
enormes dificuldades para sair da crise de 2007/08. Soma-se a isso o fato de
que as medidas de ajustes que o governo interino precisa adotar não serão
expansionistas, o que não ajudará a acelerar o crescimento da economia nos
próximos anos. Assim, o fato positivo é que a economia brasileira está se
estabilizando, indicando um viés de recuperação. Todavia, a mesma tende a ser
lenta e, por isso, longe de ser suficiente para garantir uma arrecadação de que
o governo precisa para o cumprimento da meta fiscal. Isso significa que um
aumento de impostos deverá acontecer em um horizonte não muito distante. Ora,
aumento de impostos significa menos renda aos consumidores e empresas e,
portanto, menos consumo para puxar a economia. Além disso, e mais uma vez, tais
aumentos de impostos virão para fechar o rombo das contas públicas e não para
melhorar os serviços estatais aos cidadãos brasileiros. Se a causa do rombo
(gastança pública desenfreada e malfeita) não for estancada, voltaremos à
estaca zero e logo aí na frente teremos nova crise para administrar, sem nem
mesmo termos saído suficientemente da atual.