Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
30/06/2016
O
Reino-Unido votou pela saída da União Europeia! Além do fato de ser a primeira
vez, desde a criação do bloco europeu, em março de 1957, que um de seus membros
se retira deste bloco que reúne, hoje, 29 países, trata-se da saída de um
membro fundador do bloco, inicialmente chamado de Mercado Comum Europeu (MCE).
Portanto, estamos diante de um fato significativo. Menos mal que o Reino não
aderiu à chamada zona euro, conservando a sua moeda como unidade monetária. Dito
isso, outras considerações merecem atenção. Em primeiro lugar, o Brexit
reforçou a lógica de que os britânicos seguidamente viraram as costas ao
continente europeu. Esse procedimento é pressionado por um forte movimento xenofóbico.
Em segundo lugar, o Reino Unido se mostrou desunido na tomada de tal decisão.
Escócia e Irlanda do Norte votaram fortemente pela permanência na União. Isso
deverá enfraquecer os britânicos no futuro. A Escócia ameaça, inclusive, não
referendar o resultado do plebiscito, o que bloquearia a saída do Reino da
União. Além disso, plebiscitos visando a saída destes países do próprio Reino
Unido não se podem descartar no futuro. Em seguida, a economia mundial não
aprovou a saída dos britânicos (a libra sofreu sua maior desvalorização em 31
anos, além das bolsas de valores e mercadorias despencarem). Isso pode
significar perdas econômicas mais importantes para o Reino Unido do que para o
restante da União Europeia. Em terceiro lugar, é fato que há um enfraquecimento
inicial do bloco europeu com a perda de um membro deste porte. Os resultados de
tal saída podem, no futuro, estimular outros países a empreenderem plebiscitos
desta natureza. Lembramos que a Grécia, no auge de sua atual crise
econômico-financeira, chegou a cogitar tal medida. Por sua vez, não se pode
esquecer que o processo de saída definitiva dos britânicos deverá,
tecnicamente, durar entre quatro a seis anos (há milhares de acordos a serem
revistos). Quanto aos impactos sobre a economia brasileira e do Mercosul, por
enquanto pode-se dizer que, além de algumas repercussões imediatas, a tendência
é de poucos efeitos no Brasil. O comércio agropecuário, que é um dos pontos
relevantes de nosso país para com os europeus, não será muito atingido, podendo
mesmo os britânicos, na medida em que saírem do bloco, aprofundar alguns acordos
específicos. Porém, não nos iludamos, o Reino Unido continuará a realizar
grandes negócios com o restante da Europa Continental, podendo mesmo fechar, na
sequência, um acordo de livre-comércio com a União. O impacto mais sério será
mesmo sobre o Mercosul e seus esforços em levar a cabo negociações de
livre-comércio com a União Europeia, paralisadas desde 2004. O Reino Unido era
o fiador desse processo, apoiando os sul-americanos. Sua saída do bloco
enfraquece a iniciativa já que França e outros países estão receosos de
avalizar tal projeto. Pelo sim ou pelo não, o fato é que muita coisa ainda se
passará até que tudo esteja concretizado.