Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
07/07/2016
Um
superávit na balança comercial é sempre bem-vindo na lógica de melhorar as
contas externas de um país. Afinal, a balança comercial é uma conta que compõe
a conta maior chamada de balança de transações correntes. O Brasil, nos últimos
anos vinha acusando déficits importantes nesta última: US$ 54,2 bilhões em
2012; US$ 81,1 bilhões em 2013 e US$ 91,3 bilhões em 2014. Em 2015 o quadro se
inverteu e o déficit recuou para US$ 58,9 bilhões, devendo melhorar um pouco
mais ainda em 2016. Em parte, tal comportamento foi auxiliado pela recuperação
do comércio exterior. O mesmo saiu de um déficit de US$ 4,05 bilhões em 2014
para um superávit de US$ 19,68 bilhões em 2015. Agora, em 2016, o saldo deverá
ser ainda melhor. Os primeiros seis meses do ano registram um superávit de US$
23,64 bilhões, contra apenas US$ 2,23 bilhões no mesmo período do ano passado.
Na comparação anualizada (jul/15 a jun/16 ante jul/14 a jun/15) o avanço é
ainda mais expressivo, pois o saldo destes últimos 12 meses chega a US$ 41,09
bilhões, contra apenas US$ 690 milhões no ano anterior. Todavia, ao abrirmos os
números a euforia pelo resultado absoluto é substituída pela preocupação. Em
primeiro lugar, porque o resultado atual é consequência de uma fortíssima
redução nas importações e não pela recuperação das exportações. Assim, no
primeiro semestre deste ano, em relação ao primeiro do ano passado, nossas
importações diminuíram 28,9%. Já as exportações recuaram 5,9%. Em 12 meses, as
compras externas caíram 29,6% enquanto as vendas para o exterior recuaram
10,1%. Ou seja, o saldo positivo se deve ao fato de que, devido a recessão
econômica nacional e a forte desvalorização do Real no período, as importações
despencaram. Além disso, nota-se que mesmo com a perda de valor da moeda nacional,
a qual atingiu picos históricos na era do Real, tanto em setembro/15 quanto em
janeiro/16, nossas exportações não decolam. Pelo contrário, vendemos, em valor,
menos do que o período anterior. Parte deste comportamento se explica pela
forte redução nos preços internacionais das principais commodities que
exportamos. Mas há outra explicação, bem mais séria: não adianta só
desvalorizar a moeda nacional. O que nos falta, e de muito tempo, agravado nos
últimos anos pela gestão pública temerária que tivemos, é competitividade.
Nossos produtos sofrem pela baixa competitividade tanto de nossa mão de obra
quanto de nossos bens de capitais (máquinas e tecnologia em geral), salvo honrosas
exceções. E para aumentar a competitividade não basta apenas o ajuste fiscal e
a recuperação do tripé de sustentação da estabilidade econômica. Será preciso
reformas estruturais profundas em todas as áreas e, sobretudo, a recuperação da
qualidade do ensino em todos os níveis. E tais correções não se fazem
rapidamente. Temos, pelo menos, uma geração de trabalho pela frente, desde que
comecemos logo e façamos corretamente esse dever de casa que, nos últimos anos,
foi irresponsavelmente ignorado.