Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
09/06/2016
Seria
o PIB do primeiro trimestre de 2016 um indicativo de que, finalmente, a
economia brasileira bateu no fundo do poço? A resposta pode ser positiva,
porém, ainda é cedo para conclusões. Mesmo porque, se o PIB é um importante
indicador, estamos descobrindo que temos outros poços a vencer. Dentre eles, o
político. O envolvimento de pessoas presentes no chamado “novo” governo, nos
escândalos de corrupção, não deixa dúvidas que os entraves políticos serão
imensos para colocar o Brasil novamente nos trilhos de um crescimento
sustentável. Esse fundo de poço está longe de ser visto! E tal realidade atinge
a confiança dos investidores em geral, o que emperra a retomada, pelo menos na
velocidade desejada. Dito isso, ainda é preciso lembrar que, apesar de termos
crescido -0,3% no último trimestre, engatando um terceiro trimestre em ascensão,
no passado recente já tivemos movimentos semelhantes e a recuperação não se
confirmou. Todavia, agora há um fato novo: que efeito psicológico e concreto a
nova equipe econômica provocará? Por enquanto, temos muitos anúncios e pouca
ação, fato que já deixa o mercado reticente. Além disso, não se pode ignorar
que nosso PIB, em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficou em
-5,4%, consolidando um dos piores resultados recessivos do mundo. Soma-se a
isso o fato de que, pela primeira vez, depois de algum tempo, a agropecuária
igualmente registrou PIB negativo no trimestre (-0,3%). Ou seja, um dos poucos
setores econômicos que ainda reagia, parece ter se esgotado. Afinal, nem sempre
o clima nos será favorável! Mas o mais preocupante quanto a uma chegada ao
fundo do poço está nos números relativos à poupança e ao investimento em
relação ao PIB nacional. Enquanto a poupança nacional, de janeiro a março deste
ano, ficou em 14,3% do PIB, quando o ideal é algo em torno de 25%, os
investimentos continuaram despencando. De fato, sem poupança não se criam as
condições para investir. E sem investir não se criam as condições de crescer e
desenvolver no futuro. Nesse sentido, pelo décimo trimestre seguido (dois anos
e meio) nosso investimento foi negativo (-2,7%). Pior: nossa taxa de
investimento, neste primeiro trimestre, ficou em 16,9% do PIB quando o ideal,
de maneira geral, é igualmente ficarmos ao redor de 25%. E mais: no acumulado
de 12 meses a queda dos investimentos é de 15,9%. Já a rubrica “gastos do
governo” continuou a registrar números positivos (1,1% no trimestre).
Exatamente a que precisaria ser melhor controlada! E o recente aumento
indiscriminado de salários, junto a todos os poderes da República, em nada
melhora as perspectivas futuras de tal realidade. Portanto, talvez tenhamos
chegado ao fundo do poço, porém, as condições ainda não estão reunidas para
dele sair (nem mesmo para afirmarmos de que não teremos recaídas). E os
movimentos políticos erráticos do “novo” governo acabam fragilizando suas ações
econômicas, aumentando a dose de preocupação do mercado. Ora, depois de tudo o
que se viveu nestes últimos anos na economia, o que menos o país precisa, para
sair da crise, é de o “novo” governo se mostrar incapaz de realizar o dever de
casa.