Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
16/06/2016
O
desemprego é um dos grandes flagelos de uma economia em crise. Tecnicamente o
que o Brasil vive hoje seria um desemprego cíclico, oriundo de um drástico
declínio da produção, característica das grandes recessões mundo afora.
Todavia, esse desemprego deverá igualmente ser alimentado pelo que chamamos, em
economia, de desemprego tecnológico ou estrutural, pois as empresas, hoje em
dificuldades, irão apostar mais na substituição da mão de obra pela tecnologia
quando o país sair da crise. Além disso, diante do atual quadro de empregos, o
padrão de demanda dos consumidores se modificou e não deverá voltar tão cedo ao
que foi antes da crise (se é que voltará!). Obviamente, no caso específico do
Brasil, muito deste movimento depende de nossa lei trabalhista, arcaica em
muitos aspectos, e de uma possível reforma estrutural da mesma. Em continuando
como está, as empresas devem modificar suas estratégias de empregabilidade. Hoje,
11,2% dos brasileiros ativos estão desempregados, com tendência de fecharmos o
ano ao redor de 13%. No total, com dados até abril passado, são 11,4 milhões de
brasileiros ativos sem trabalho. E isso que muitos nesta situação não entram
nas estatísticas porque já deixaram de procurar emprego. No Rio Grande do Sul,
o mês de abril registrou a maior queda de empregos nos últimos 13 anos (cf.
Caged). Todas as regiões do país e todos os setores da economia, nesse momento,
registram crescimento no desemprego. E não poderia ser diferente diante da
brutal recessão vivida pelo país. Com isso, a qualidade de vida dos brasileiros
diminui em todos os sentidos. Apenas no Rio Grande do Sul 1,3 milhão de gaúchos
deixaram a saúde complementar (planos de saúde privados) em apenas um ano (de
março de 2015 a março de 2016) devido ao desemprego e a consequente perda de
renda. Há uma década não se via um recuo nesse item importante da vida das
pessoas. Pior: segundo o Ipea, o Brasil registrou, no 1º trimestre de 2016,
26,4% dos jovens entre 14 e 25 anos desempregados. No 4º trimestre de 2015 o
percentual era de 20,9% o que mostra a disparada do desemprego nestes últimos
meses no país. E confirmando o que sempre se soube, os menos preparados são os
que mais sofrem (as pessoas com Ensino Médio incompleto chegam a 15% de
desemprego, enquanto quem possui Ensino Superior completo registra uma taxa de
7,6%). Nesse contexto, não deve ser surpresa o recuo para as classes D e E de cerca
de 10 milhões de brasileiros que haviam atingido a classe C, confirmando que
sua ascensão, nos últimos anos, foi feita sem base de sustentação econômica.
Enfim, não surpreende igualmente que, pela primeira vez desde 1992, o Brasil
registrou em 2015 a triste combinação de queda na renda com o aumento da sua
desigualdade (cf. Pnad). Somente no ano passado a renda do trabalhador per
capita caiu 3,2%. Espera-se que os brasileiros não esqueçam de qual política
econômica (e de quem a implantou) os conduziu a esse estado de coisas. A
memória curta já nos trouxe enormes prejuízos socioeconômicos em nossa
história. Não precisamos que isso se repita mais uma vez!