Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
14/04/2016
No
momento em que o Brasil vive um conturbado quadro político, provocado por uma
crise econômica sem precedentes nos últimos 25 anos, assistimos a um movimento
preocupante. Por enquanto, trata-se de um novo capítulo da crise, com dimensões
internacionais. Trata-se, mais uma vez, do enfraquecimento do sistema
financeiro, que demonstra grande fragilidade, em particular junto as pequenas e
médias casas bancárias, diante do prolongamento da crise de 2007/08. A forte
inadimplência, de pessoas físicas e jurídicas, vem provocando dificuldades
importantes nesse setor, pois a recuperação do crédito se torna cada vez mais
difícil e incerta, enquanto a necessidade de medidas prudenciais as obriga a
aumentar as reservas contingenciais para fazer frente aos maus pagadores. Ao
mesmo tempo, não se vislumbra, num horizonte de médio prazo, uma retomada substancial
da economia. Isso porque há claros riscos de instabilidade financeira,
especialmente procedentes de países que apresentam déficits correntes
importantes, dependem das exportações de matérias primas que viram seus preços
recuarem fortemente, e/ou registram déficits internos crescentes em relação ao
seu PIB. Dentre estes países está o Brasil, cuja recessão econômica se
aprofunda, com forte possibilidade de terminar 2016 com -4% de PIB, após 0,1%
em 2014 e -3,8% em 2015. É nesse contexto, inclusive, que se deve ler o recuo
da inflação nacional em março. Trata-se de uma boa notícia, porém, pela metade.
O recuo da inflação tem grande dose do efeito recessivo, na medida em que o
desemprego aumenta significativamente e a renda da população cai rapidamente.
Assim, voltamos a ter uma inflação de demanda, agora pelo lado inverso. Ou
seja, a inflação recua porque a demanda cai por falta de poder aquisitivo de um
lado e, especialmente, pelo alto endividamento, acompanhado de forte
inadimplência, do outro lado. Nesse último caso, mais de 50 milhões de
brasileiros se encontram em tal situação. Mesmo assim, os juros comerciais não
recuam porque os bancos aumentam seus spreads (diferença entre o juro
básico-Selic- e o juro efetivo), pois uma das maiores partes dessa diferença é justamente
a cobertura da inadimplência. Assim, mesmo que a Selic venha a recuar,
provavelmente o juro de mercado não acompanhará o movimento. Afinal, segundo o
próprio BACEN brasileiro, a crise bateu forte nas empresas nacionais
igualmente, com um número crescente solicitando recuperação judicial (antiga
concordata). Isso permite o calote aos bancos, fato que está atingindo, de
forma preocupante, os bancos de médio porte. Esse novo capítulo da crise ganha
contornos de comprometimento do sistema financeiro nacional (e está presente
igualmente no cenário mundial). É preciso acelerar o crescimento, porém, no
estado em que as coisas estão no Brasil, estamos longe de realizar tal feito. E
quanto mais o imbróglio político se estender no tempo, onde não surge nenhuma
liderança e nenhum projeto capaz de reverter o quadro de incompetência em que
vivemos, menos chances teremos de sair desse porão econômico.