Prof. Dr. Argemiro Luís
Brum
21/04/2016
Passada
a primeira etapa do processo de impedimento contra a presidente Dilma, neste
último dia 17/04 na Câmara dos Deputados, algumas lições importantes merecem
atenção. A primeira é que, salvo honrosas exceções, o conjunto dos deputados
federais se portou como se num circo estivesse. A postura da maioria esteve
longe da importância do ato realizado. E isso desnuda a mediocridade política na
qual nosso país está envolto. Afinal, é nessa casa, com estes personagens, que
as leis brasileiras são discutidas e votadas. Em segundo lugar, o processo de
depuração da corrupção e irresponsabilidade administrativa não pode parar aí.
Do conjunto dos deputados que ali votaram, mais de 50% sofrem processos de
improbidade administrativa e/ou algum tipo de corrupção em relação ao bem
público, a começar pelo presidente da Câmara. Isso significa que a Operação
Lava-Jato e outras operações do gênero devem continuar e, mesmo, serem
fortalecidas. Em terceiro lugar, se efetivamente o impedimento for concretizado,
será preciso que o futuro presidente consiga apoio político para governar. Isso
está longe de ser uma garantia, tamanha é a divisão sectária que os debates em
torno do assunto tomaram no país nestes últimos meses. Sem falar que o próprio
vice-presidente igualmente está ameaçado de sofrer um processo de impeachment. Em
quarto lugar, pelo lado econômico, o mercado financeiro e bursátil, após operar
por semanas contra o governo da presidente Dilma (Real valorizado e Bovespa em
alta), no dia seguinte ao 17/04 voltou à realidade, confirmando a máxima de que
“a Bolsa sobe no boato e cai no fato”. Ou seja, o mercado sabe que a crise é
enorme, sabe que o remédio será amargo e de efeito demorado, e sabe que não
será apenas trocando de pessoas nos cargos de decisão, especialmente no
Ministério da Fazenda e no Banco Central, que o Brasil irá superar a crise. Em
quinto lugar, muito irá depender de quem o novo presidente, se vier a tomar
posse, irá indicar para estes dois cargos importantes aos destinos de nossa
economia. A tendência é de termos técnicos de linha monetarista que venham
realizar, finalmente, um ajuste fiscal profundo e reformas estruturais
fundamentais. Resta saber se tais pessoas terão realmente um respaldo político
adequado para levar adiante a tarefa. Enfim, não nos iludamos! Até agora estávamos
afundando, com grande parte dos brasileiros se inviabilizando (cerca de 60
milhões já estão inadimplentes). Talvez, com a mudança política, mesmo que
longe de ser confiável, alcancemos o fundo do poço econômico. A questão, a
partir daí, é quanto tempo ainda ficaremos neste fundo e quanto nos custará, em
duros ajustes com remédios amargos, para dele sair definitivamente. Os recentes
acontecimentos políticos podem nos direcionar para uma saída (nada está
garantido), porém, a mesma será lenta, podendo mesmo atingir uma década até
voltarmos ao estágio alcançado em 2007, ano em que o governo brasileiro entrou
na desastrosa ilusão da “nova matriz econômica” e dela não mais conseguiu sair,
inviabilizando a ele e ao país.