Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
03/03/2016
É doloroso reconhecer, porém, não podemos
deixar de sermos honestos, realistas, com as questões econômicas que nos movem.
O Brasil mudou de patamar econômico! E, obviamente, para pior nestes últimos
anos. Conseqüência de uma gestão pública temerária e interesseira, colocamos
fora boa parte dos ganhos da estabilização que o Plano Real nos trouxe. Hoje, o
quadro já não seria mais de crise. Na prática o Brasil está vivendo uma nova
realidade, onde o empobrecimento do país é a tônica. Essa realidade vem sendo
seletiva, penalizando o conjunto da sociedade, mas especialmente os mais
pobres. Particularmente porque o Estado nacional não possui mais recursos,
esgotado que foi, para sustentar com programas sociais os menos favorecidos em
nosso país. E, o que se temia vai se confirmando com o passar do tempo. Tal
realidade irá durar anos! E como para corrigir o problema o Brasil precisa
adequar receita e despesas, através de um ajuste fiscal e de reformas estruturais
profundas, a situação ainda irá piorar antes de melhorar. Isso porque não se
fez o dever de casa, apesar dos discursos oficiais. Pior, novamente interessado
nas eleições, agora municipais, o governo federal deu uma guinada no início de
2016, relativizando a importância do ajuste nas contas públicas. Assim, os
déficits se acumulam e nos levam a perder constantemente a nota internacional
de crédito, o que nos coloca em uma situação de “país de risco”. Nesse
contexto, se quisermos iniciar um processo de correção econômica temos que
partir efetivamente para a execução de medidas de ajuste das finanças públicas.
Ora, sob esse ângulo, por enquanto o arrocho econômico nem começou. E, para
começar, o governo terá que superar seus próprios aliados de curta visão, os
quais combatem incessantemente qualquer projeto de reforma (vejam o caso atual
da proposta de reforma da Previdência, apesar de a mesma ter acusado um rombo
de R$ 158 bilhões em 2015 e estar sob ameaça de quebrar definitivamente em 10
anos). Em síntese, estamos diante de um governo fraco, sem apoio político, rodeado
por interesseiros de plantão, pressionado por um processo de corrupção
desenfreado, onde boa parte do próprio Legislativo e Judiciário se mostra
comprometido com interesses próprios, sendo a incompetência gerencial da
chamada “coisa” pública uma evidência. E parte da sociedade brasileira, por
desconhecimento, ingenuidade ou porque tira vantagens pessoais deste caos, vem apoiando
isso. Decididamente mudamos de patamar, não só retomando a sina de eternos
subdesenvolvidos, mas caindo agora para um escalão mais abaixo. A
recuperação, se vier, será laboriosa, exigindo muito preparo de todos.