Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
10/03/2016
No
dia 03/03 o IBGE oficializou que o PIB brasileiro, em 2015, despencou, ficando
negativo em 3,8%. Todavia, essa notícia importante, mesmo que esperada por
todos, foi solenemente ignorada. As repercussões da 24ª. Fase da Operação Lava
Jato, atingindo o núcleo do poder central brasileiro, nas pessoas do
ex-presidente Lula e da presidente Dilma, dominaram o cenário nacional neste
início de março. Imediatamente o Real se valorizou no mercado cambial, chegando
a bater em R$ 3,65 no dia 04/03, ganhando 8,75% em menos de cinco dias.
Precisou o Banco Central atuar para segurar o processo. Já a Bovespa se
valorizou extraordinariamente ganhando, em cinco pregões daquela semana, 19%
para atingir seu melhor nível desde 2008. Para muitos, menos familiarizados com
a economia, tais comportamentos assustaram. Ora, não há nada de especial no
processo. Em primeiro lugar, o mercado funciona sobre objetividade e
competência nas decisões macroeconômicas dos países. Há anos o governo
brasileiro deixou de lado estes dois aspectos e passou a intervir
desastrosamente na economia. A ponto de comprometer a sobrevivência da
Petrobrás e de outras empresas estatais. Os fatos em torno da corrupção
pública, neste cenário, apenas vieram acelerar o processo de descrédito do
mercado sobre nossa economia. Agora, com a possibilidade, via Operação Lava
Jato, de o atual governo e seus mentores se inviabilizarem (os acontecimentos
recentes reavivaram a possibilidade de impeachment da presidente Dilma),
podendo o país partir para uma política econômica mais ortodoxa e responsável,
realizando, finalmente, o ajuste fiscal necessário e as reformas estruturais
fundamentais, coloca os agentes econômicos aqui e no exterior em estado de euforia.
Em segundo lugar, por enquanto o movimento é especulativo e está longe de
formar uma tendência, já que os desdobramentos desta Fase da Operação Lava Jato
serão longos e outras fases virão. Em terceiro lugar, o mercado já precificou
bastante as consequências destes fatos políticos, porém, não se pode descartar
oscilações cambiais entre R$ 3,50 e R$ 4,00 por dólar nas próximas semanas. Em
quarto lugar, alguns analistas avançam que, em havendo mudança de governo, o
câmbio poderia vir a R$ 3,00. Ora, isso está longe de ocorrer e, por enquanto,
está mais no desejo de alguns do que na realidade econômica nacional. Enfim, a
Bovespa poderá assistir a novos ganhos, podendo chegar a 60.000 pontos (no auge
do dia 04/03 ela girou ao redor dos 48.000 pontos, com as duas principais
empresas ali cotadas – Petrobrás e Vale – ganhando cerca de 17% e 10%
respectivamente naquele dia). Pelo sim ou pelo não, entramos no terreno onde
tudo pode ser possível nessa área. Entretanto, o racional é esperar os
desdobramentos da Operação Lava Jato e medir em quanto o mercado já precificou
esse novo cenário político e o que será realmente comprovado no mesmo. Mas uma
coisa ficou evidente: a depuração da corrupção e da incompetência na gestão do
setor público brasileiro impacta rápida e favoravelmente no humor da economia
nacional. Isso também não deveria ser novidade para ninguém!