Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
24/03/2016
Era sabido que os preços da soja no Brasil,
nesta safra (colheita 2016), estavam particularmente dependentes do
comportamento cambial. Isso porque, em Chicago, desde meados de agosto passado
o bushel estacionou entre US$ 8,50 e US$ 9,00. Nesse sentido, devido aos erros
na condução da economia nacional, o Real iniciou um forte processo de
desvalorização a partir de meados de 2015, culminando por bater em R$ 4,19 na
segunda quinzena de setembro passado. Esse processo, embora menos agudo na
sequência, manteve o Real ao redor de R$ 4,00 por dólar até quase o final de
fevereiro/16. Com isso, em todo esse período, o saco de soja viu seu preço se
elevar, oscilando em torno de R$ 75,00, com picos de R$ 80,00 e mesmo, em
alguns momentos, acima disso. Tal comportamento, em caso de safra normal como
estamos tendo, permitia, aos produtores, compensar os altos custos de produção
praticados justamente devido a desvalorização do Real. Assim, o mote era
realizar vendas antecipadas visando travar (garantir) tais preços, nem que
fosse para pagar os custos de produção. No Brasil, no final de fevereiro, cerca
de 55% da safra havia sido vendida antecipadamente (no Rio Grande do Sul
chegava-se a 40%). Por enquanto, tal estratégia se mostrou correta, pois o Real
acabou se valorizando fortemente neste mês de março em função dos
desdobramentos da chamada Operação Lava-Jato, particularmente no momento em que
atingiu o núcleo central do governo federal e o ex-presidente Lula. Em alguns
momentos o câmbio ficou abaixo dos R$ 3,60, permanecendo nestes níveis nos
últimos dias. Isso coincidiu com a colheita que, no Brasil, em meados de março,
atingia a 50% da área total (6% no Rio Grande do Sul). Isso derrubou o preço
médio da soja de forma considerável, com o balcão gaúcho chegando a níveis de
R$ 65,00/saco em alguns momentos destas duas últimas semanas. Ou seja, os
produtores rurais que deixaram para vender sua soja na colheita, diante deste
comportamento cambial, deixam de ganhar, no momento, entre R$ 10,00 a R$
15,00/saco em relação aos melhores momentos de preços na entressafra. E a
situação só não está pior porque, devido às expectativas quanto a uma possível
redução de área semeada nos EUA no plantio de 2016 (o mercado antecipa o relatório
de intenção de plantio, previsto para o dia 31/03), o bushel rompeu finalmente
o teto dos US$ 9,00 em Chicago, subindo de US$ 8,50, no dia 01/03, para US$
9,10 neste dia 22/03. Dito isso, tudo pode se alterar, na medida em que nos
dois movimentos vivemos uma forte especulação. Em Chicago, tudo dependerá do
relatório do dia 31/03 e da continuidade da colheita recorde na América do Sul.
Aqui no Brasil, o câmbio dependerá dos desdobramentos políticos que estão longe
de terminar. Ou seja, a volatilidade cambial, em particular, continuará muito
grande, com o Real devendo oscilar por um bom tempo entre R$ 3,50 e R$ 4,00. Estamos,
portanto, em um momento que requer muito cuidado na comercialização da soja,
após o mercado ter oferecido um excelente momento de preços nos meses passados.