Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
17/12/2015
O mundo acaba de
encerrar uma das mais importantes conferências climáticas de sua história: a
COP 21, em Paris. O documento assinado na ocasião, considerado um marco
jurídico contra o aquecimento global, e batizado de Acordo de Paris, busca
limitar esse aquecimento em até 1,5ºC nos próximos 85 anos, com um balanço da
situação a cada cinco anos. Para o tamanho do problema e pela sua urgência o
que foi assinado acaba sendo pouco e desafiador: para dar certo será preciso
que as emissões de gases de efeito estufa alcancem um pico em 2020 e, a partir
desta data, recuem para zero até 2050. Afora isso, existe uma questão econômica
estrutural ligada a dois grandes grupos de países com interesses divergentes e
de difícil solução. O primeiro grupo, formado pelos desenvolvidos, altamente
industrializados, que, por já atingirem um estágio de organização econômica
elevado, podem defender uma redução nas atividades produtivas até aqui
conhecidas e, em seguida, uma mudança de modelo produtivo, menos poluente. Para
este fica bem mais fácil exigir do segundo grupo, os subdesenvolvidos (grande
maioria), maior respeito pelo meio ambiente quando historicamente pouco se
preocupou com isso até chegar aos dias de hoje. Afinal, a conquista de seu
desenvolvimento se deu pelo uso constante do meio ambiente (terra, água, solo,
ar, florestas...). O segundo grupo, na busca pelo desenvolvimento, afora os
demais desafios de organização política e social, segue o mesmo modelo
conhecido e posto em prática até hoje pelos que avançaram. Em muitos casos, ao
custo de investimento e deslocamento de recursos que faltaram para a melhoria
de seus sistemas de educação, saúde, segurança, saneamento... Aceitar deixar
esse modelo de lado, hoje, é muito difícil. Mesmo porque o novo sistema
produtivo proposto, que abre novas frentes de acumulação de capital para quem
detém a tecnologia, custa muito caro e os recursos disponibilizados para isso,
até o momento, são muito baixos. Aos olhos deste segundo grupo, a decisão de
partir para um novo paradigma produtivo internacional parece ser uma nova forma
de impedir que seus membros alcancem maior competitividade e desenvolvimento. Obviamente,
não se pode excluir tal possibilidade conhecendo-se a história do jogo de
forças econômicas internacionais. Todavia, é certo que o mundo precisa partir
para um novo processo de produção industrial e de vida, sob pena de comprometer
definitivamente a existência de muitas Nações até o final deste século. O mercado,
que não tergiversa em torno de discursos e ideologias, já percebeu que está
nascendo uma nova oportunidade de gerar riqueza, no contexto normal do
capitalismo hegemônico que temos, apoiando decididamente as mudanças futuras.
Cabe aos diferentes países e suas populações acordarem para o fato e tratarem
de agir, sob pena de, passadas as próximas décadas, ouvirmos gritos de “abaixo
o imperialismo ambiental”, assim como assistimos hoje muitos contrários aos
ajustes fiscais do Estado porque, até hoje, nunca se preocuparam com a
eficiência na gestão pública.