Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
03/12/2015
Como afirmamos no comentário anterior,
igualmente existem aqueles que ganham com o aumento da Selic e a elevação dos
demais juros na economia. Dentre eles encontramos as pessoas e empresas que
possuem poupança. Estas, ao aplicarem seu dinheiro nos diferentes fundos de
investimento ofertados pelos bancos, geralmente estão ganhando um rendimento
acima da inflação, pois os mesmos acompanham proporcionalmente as altas da
Selic. Algumas aplicações são ainda mais interessantes, pois isentas de
impostos. Parte do enorme volume de retiradas da tradicional caderneta de
poupança tem essa causa. O poupador percebeu que a dita poupança tem uma perda
real elevada em seu rendimento, devido à alta inflação, e migra para essas
demais aplicações, mais rentáveis. O problema é que isso não gera produção,
emprego, e sim apenas ganhos financeiros, favorecendo particularmente aos
bancos que, em plena crise nacional, registram lucros elevados a cada trimestre.
Essa é uma peça no crítico xadrez econômico nacional. Adicionando a mesma às
demais peças, temos que, no atual quadro político-econômico nacional, que não
permitiu a realização do ajuste fiscal e das reformas estruturais mais urgentes
até agora, o contexto econômico para 2016 se desenha pior do que foi o ano de
2015. Ou seja, quando se esperava uma estabilização da crise e até um início de
recuperação, mesmo que lenta, para o final do próximo ano, a incapacidade de
realizarmos o dever de casa, jogou a possibilidade de uma saída de crise para
2017 e, se não cuidarmos, ainda para mais longe. Nesse sentido, não se
vislumbra recuperação econômica para o próximo ano. Ou seja, uma recuperação
sustentável da economia irá demorar muito e, quando se iniciar, será lenta. O
Brasil não construiu as condições, ainda, para isso e, pelo que se vê, está
longe de fazê-lo. A sociedade brasileira demora em compreender a realidade em
que está, enquanto as instâncias de governo federal se mostram despreparadas,
com forte viés soldado por interesses particulares, para realizar as mudanças
profundas de que necessitamos. Dessa forma, a população deverá continuar a
apertar o cinto, realizando apenas os gastos necessários e saindo das dívidas
mais pesadas e dos juros mais elevados. Se possível poupar alguma coisa para os
dias piores que ainda poderão vir. Deverá reestruturar sua composição de gastos
em relação a suas receitas, especialmente em um ambiente onde o desemprego
geral tende a aumentar. Dito de outra forma, devemos esperar um longo período
de dificuldades econômicas, com o agravante de que perdemos todo o ano de 2015.
O máximo que se observou foi uma relativa tomada de consciência de que o ajuste
fiscal e as reformas estruturais são imprescindíveis para o país iniciar um processo
de recuperação econômica. O problema é ultrapassar as barreiras para
transformar tal tomada de consciência em ações concretas de encaminhamento de
soluções, mesmo que as mesmas sejam doloridas, como o serão. Não há como fazer
omelete sem quebrar ovos. E quanto mais demorarmos na feitura de tal omelete,
pior as coisas ficarão.