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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

TRÊS NÚMEROS E ALGUMAS CERTEZAS

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
05/11/2015


Que o ajuste fiscal é a condição básica para o Brasil iniciar um processo de recuperação de sua economia, isso já não é mais novidade. Que o governo (executivo e legislativo) jogou fora mais um ano (2015) sem nada fazer nesse sentido, igualmente já não é mais novidade. O que talvez seja novidade, para os menos avisados, é o tamanho do problema que o país tem pela frente, apesar dos constantes avisos e análises. Três números vieram à tona nesta última semana que escancaram tal problema. O primeiro veio na confirmação de que, ao invés de um magérrimo superávit primário (0,15% do PIB), o país assistirá a mais um déficit primário em 2015. E que o mesmo será bem maior do que o registrado no ano anterior. Tal déficit, inicialmente, poderá ser de R$ 51,8 bilhões ou 0,9% do PIB. O segundo número, e mais preocupante, é que o próprio governo reconhece que o rombo pode ser bem maior. Ou seja, o mesmo poderá atingir a R$ 110 bilhões se as pedaladas fiscais realizadas tiverem que ser aí contabilizadas, assim como se o governo tiver que incluir R$ 11 bilhões, que deixarão de entrar no caixa, caso não ocorra o leilão de concessão das hidrelétricas previsto para este mês de novembro. O terceiro número é ainda mais assustador. Os valores acima dizem respeito ao déficit primário (resultado negativo nas contas públicas sem considerar o pagamento dos juros da dívida), porém, se considerarmos os juros a serem pagos teremos o déficit nominal. Pois bem, esse alcança hoje R$ 528 bilhões (9,21% do PIB). Nesse contexto, algumas certezas se cristalizam. O ano de 2016 será bem mais difícil, pois o ajuste terá que ser feito e deverá ser mais severo do que as expectativas existentes no final de 2014, já que o rombo das contas públicas aumentou. O país não pode mais “brincar” de fazer política econômica e a irresponsabilidade política obrigatoriamente terá que dar lugar a ações concretas de conserto, mesmo que o remédio tenha se tornado ainda mais amargo por inoperância da gestão pública em 2015. Outra certeza é que, diante de tal quadro, o país não tem espaço para liberar crédito para consumo e investimento, reduzindo a taxa de juros, sob pena de alimentar o problema, repetindo o que foi feito entre 2007 e 2014. E mais, por termos atrasado mais um ano na realização do dever de casa, ficamos ainda mais fragilizados diante da clara possibilidade de elevação na taxa de juros dos EUA, que talvez já ocorra em dezembro próximo (até aqui o FED – banco central estadunidense –, em não aumentando a taxa de juros, dentre outras coisas, teria dado tempo aos países emergentes e subdesenvolvidos em geral de se prepararem para o fato). O Brasil deixou passar mais essa oportunidade. Espera-se que o mercado tenha, pelo menos, precificado, mesmo que em parte, o que vem por aí. Enfim, outra certeza é que o ajuste por si só não é garantia de retomada do crescimento econômico. Muito mais terá que ser feito diante do tamanho do problema que temos diante de nós. O saneamento da economia nacional, se houver, irá demorar alguns anos, confirmando as tendências iniciais.

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