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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O JURO DOS EUA E OS EMERGENTES

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
19/11/2015


Nesse momento existe uma preocupação mundial em relação ao aumento do juro básico nos EUA, após mantê-lo, por longos oito anos entre 0% e 0,25% ao ano, visando estimular a sua economia, centro mundial da crise de 2007/08. Agora, a economia estadunidense começa a dar mostras de uma lenta, porém, segura recuperação. O potencial inflacionário, nesse contexto, ressurge. Assim, o FED indica a possibilidade de, já no próximo mês de dezembro, iniciar a retomada das altas do juro básico, pois com inflação não se brinca. Tal possibilidade se tornou uma preocupação mundial. Em sua recente reunião anual (cf. Le Monde, 09/10/2015), o FMI solicitou aos EUA que retarde a alta de tal juro, pois os países emergentes em geral estão fortemente endividados e vivendo importante recuo em suas economias. Se, por um lado, o mundo, aos poucos, avança para a “normalização” econômica, isso está longe de ser evidente junto aos emergentes, particularmente em casos como o Brasil. Segundo o FMI, o desafio mundial se dá em três direções: atenuar a vulnerabilidade dos países emergentes; soldar a herança da crise junto às economias avançadas; e limitar a volatilidade dos mercados. Hoje, o endividamento dos emergentes atinge a US$ 3,0 trilhões, pois a maioria se endividou ainda mais tentando relançar suas economias diante da crise de 2007/08. Assim, os emergentes, e o Brasil em particular, estão mais sensíveis ao aumento das exigências em curso em relação às condições financeiras mundiais. Isso porque o ciclo dos juros mundiais baixos e dos altos preços das commodities terminou. Desta forma, os países emergentes são penalizados pela queda dos preços das matérias primas; pela importância de sua dívida em dólares; pela saída de capitais ligada à normalização esperada da economia dos EUA; e pela depreciação de suas próprias moedas. Ao mesmo tempo, a locomotiva emergente chinesa muda seu modelo de crescimento, dando mais atenção ao seu mercado interno e menos às exportações, ao mesmo tempo em que tende a se direcionar para um sistema financeiro mais orientado ao mercado. No país asiático, um quarto da dívida do setor privado está em mãos de empresas incapazes de pagar os juros de suas dívidas, fato que coloca os bancos locais diante de um grande desafio de reestruturação. A crise financeira local, em meados do corrente ano, mostrou que liberar o mercado financeiro, com certa disciplina, acabou sendo uma armadilha. Tal movimento, em uma realidade onde a liquidez é fraca se torna fonte de volatilidade e instabilidade econômica. Soma-se a isso, em termos mundiais, o fato de que o sistema financeiro mundial deverá, nos próximos meses, se ajustar a uma alta dos prêmios de risco sobre uma série de ativos; a um aumento progressivo das taxas básicas de juro; e a uma apenas modesta recuperação econômica cíclica. O FMI se preocupa ainda com a amplitude dos efeitos de alavanca utilizados pelos fundos de investimentos sobre os mercados de derivativos, o qual ele avalia em US$ 1,5 trilhão. Nesse contexto, o retardamento ainda maior do aumento do juro básico nos EUA viria dar mais tempo aos emergentes de completarem suas políticas de ajustes nas áreas orçamentária, estrutural e financeira. Mas até quando os EUA poderão esperar? E até quando países como o Brasil continuarão, irresponsavelmente, postergando tais ajustes indispensáveis?  

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