Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
26/11/2015
Convidado, em entrevista, a responder
sobre a estratégia do aumento da taxa de juros no Brasil e o futuro da economia
nacional em 2016, analiso que o governo brasileiro, após ter tentado baixar os
juros "no grito", entre 2012 e 2013, se deparou, obviamente, com o
fracasso de tal medida, já que o processo acelerou a alta
da inflação. Tal elevação dos preços já vinha ocorrendo em função de uma
demanda estimulada (2010) que se deparou com uma oferta precária, a começar
pelos serviços públicos e os chamados insumos básicos (combustíveis, energia,
mão de obra qualificada etc...). Diante disso, assim que o governo foi
reeleito, em outubro de 2014, o mesmo reverteu a estratégia e passou a aumentar
o juro básico (Selic) com o objetivo de frear a inflação e trazê-la para o
centro da meta (4,5%) no final de 2016. Esses aumentos foram constantes até
julho/15 quando a taxa básica atingiu a 14,25%. Tal taxa praticamente dobrou em
cerca de um ano. Como, em 2015, passamos de uma inflação de demanda para uma
inflação de custos, devido à recomposição dos preços administrados
(combustíveis, eletricidade etc...) o juro alto não conteve a inflação e a
mesma já ultrapassa os 10% anuais. Isso levou o governo a abandonar a ideia de
trazer a inflação para o centro da meta em 2016, jogando-a, talvez, para 2017.
Para piorar o quadro, a forte desvalorização do Real, até setembro passado,
tornou os preços dos produtos importados muito mais caros, colaborando para a
pressão inflacionária interna. Ou seja, a arma do aumento do juro, diante das
atuais causas inflacionárias, praticamente também não faz efeito, fato que
levou o governo a, por enquanto, interromper as altas da Selic desde julho/15.
Porém, não se descarta novos aumentos da taxa. Ora, a Selic impacta sobre os
demais juros da economia, provocando uma elevação geral dos mesmos. Com isso, o
custo do dinheiro, para fazer a economia girar, se tornou muito mais caro. Na
população em geral isso provoca um aumento do endividamento e da inadimplência,
assim como um recuo nas compras e nos investimentos em geral, levando a
economia a frear (o PIB negativo de 3,2% para este ano traz impregnado em si
muito desta realidade). O freio na economia provoca forte desemprego, piorando
ainda mais o quadro econômico da população, especialmente junto aos mais
pobres. É um suicídio econômico depender do cheque especial, com juros acima de
200% ao ano, e do rotativo do cartão de crédito, com juros ao redor de 420% ao
ano. O problema é que muitos brasileiros, na falta de alternativas e não
querendo cortar o seu "trem de vida", acabam incorporando no seu
salário mensal esses dois instrumentos financeiros. Um desastre! A própria
dívida pública, originada em
um Estado inchado e ineficiente, pela falta do ajuste fiscal aumenta
consideravelmente, pois a venda de títulos públicos, para financiá-la, tem
parte indexada na Selic. Mas tem gente que ganha com a Selic elevada! (segue)