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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

DÓLAR: GOVERNO SINALIZA O LIMITE

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
01/10/2015


Um dólar acima de R$ 4,00 é inaceitável! Este foi o recado que o presidente do Banco Central brasileiro deu ao mercado na semana passada. Para tanto, se necessário, mudará de estratégia. Ao invés de continuar com os leilões de swap (venda futura), passará a vender à vista as reservas para segurar o câmbio. Para tanto, o governo conta com um volume importante das mesmas (hoje um pouco acima de US$ 370 bilhões). Esse volume é expressivo se comparado com o que país tinha em janeiro de 1999, quando foi obrigado a deixar de lado o sistema de bandas cambiais e ingressar no sistema de câmbio flutuante, o qual persiste até hoje. Naquela oportunidade nossas reservas eram pouco superiores a US$ 70 bilhões. As reservas de hoje, em outra ordem de comparação, representam um pouco mais da metade da dívida externa bruta, que está ao redor de US$ 714 bilhões. Assim, o Banco Central brasileiro tem munição para acalmar o mercado. Todavia, como o movimento cambial se deve a fatores estruturais (incapacidade de o governo articular uma base política que sustente o ajuste fiscal necessário), o risco é de se queimar reservas, acalmando a febre do mercado cambial, sem assistirmos, paralelamente, a aplicação do remédio que resolva a doença causadora da febre. Ou seja, o risco seria de reduzir as reservas sem resultados sustentáveis, fragilizando ainda mais a economia num futuro próximo. Portanto, é o momento de usarmos as reservas cambiais (é para a defesa da moeda que as mesmas existem), desde que se encaminhem, finalmente, ações confiáveis de reforma estrutural na economia, a começar pelo ajuste fiscal. Está certo o presidente do Banco Central em afirmar que não irá usar o aumento da taxa de juros como arma para atrair dólares para o país. Afinal, seria um contrassenso aumentar ainda mais a Selic para esse fim em uma economia que está em recessão, caminhando para fechar 2015 com um PIB negativo em 3% e indicando para 2016 um PIB ainda de menos 1%. Todavia, nesse contexto, existe ainda outra nuvem negra no horizonte: o aumento dos juros básicos nos EUA, protelado para o final deste ano ou para o primeiro semestre de 2016. Se não tivermos feito o suficiente em direção ao ajuste fiscal quando esse momento chegar, a pressão para depreciar o Real voltará a se intensificar. Enfim, duas outras lições ficam diante do atual quadro nacional: 1) nossa moeda se depreciou em demasia. Bastou o anúncio do Banco Central para ela cair abaixo dos R$ 4,00 por dólar na semana passada. Ou seja, o maior componente da depreciação é especulativo, indicando que mais dia menos dia, seja pela ação do Banco Central, seja pelo ajuste fiscal, o recuo do Real para níveis entre R$ 3,00 e R$ 3,50 é factível; 2) como sempre, se um governo não faz o seu dever de casa, o mercado se encarrega de levá-lo à correção, mesmo que assim seja bem mais dolorido para a população em geral e a economia em particular. Nosso governo, nos últimos anos, ignorou os alertas nesse sentido e agora o mercado apresenta a conta. 

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