Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
22/10/2015
Encerramos o comentário passado afirmando que a
exclusão do Brasil do TPP (Parceria Transpacífica) não se dá por questões
geográficas e sim por incapacidade de nossos governantes em perceberem os
movimentos estratégicos das relações exteriores entre os países, no bojo de uma
economia globalizada e cada vez mais integrada. O efeito sobre a economia
brasileira deverá surgir nos próximos anos, na medida em que a Parceria for
aprovada pelos Parlamentos dos diferentes países membros. Além do setor
primário, o Brasil será atingido em outras áreas, já que 35% de nossas
exportações de produtos manufaturados se direcionam para os países componentes
dessa Parceria, os quais tenderão a desviar comércio, deixando de lado boa
parte dos produtos brasileiros. E de pouco adiantou, pelo menos por enquanto,
nossa presidente ter corrido aos EUA recentemente para abrir uma porta
comercial maior com a economia líder do mundo, afirmando cinicamente que o Brasil
sempre teve vocação para o livre-comércio. Por sua vez, os acordos recentemente
fechados com a China (por iniciativa chinesa, diga-se de passagem) ainda estão
longe de garantir avanços econômicos ao Brasil. Enquanto isso, os EUA, mesmo
liderando uma Parceria para conter os chineses, não deixaram de assinar um
acordo comercial importante com a China pelo qual, dentre outras coisas,
venderão ao país asiático 13 milhões de toneladas de soja anuais (justamente
nosso principal produto de exportação e justamente para o nosso principal
comprador internacional). Tamanha incompetência de quem nos governou e governa
nos últimos 13 anos começa a trazer prejuízos cada vez maiores, visíveis não
apenas nos resultados da balança comercial e nos bens que exportamos e importamos,
mas, sobretudo, no acesso a novos mercados, a novas tecnologias e investimentos
internacionais. Aqui, como em relação a economia interna brasileira, não
faltaram avisos sobre o custo que os brasileiros iriam pagar pelas escolhas
cristalizadas pelos nossos governantes a partir de 2003. Hoje “o Brasil assiste
ao surgimento de um novo acordo comercial que nos deixa mais vulneráveis e
menos competitivos”. Entretanto, o quadro de fraqueza externa não para nessas
constatações. Segundo o FMI, com a queda no PIB nacional, o Brasil recuou para
o nono lugar mundial. Pela segunda vez, desde 2007, deixamos de compor o seleto
grupo das oito principais economias do Planeta. Pior, em termos per capita, em
valores correntes, vamos recuar de 61º para o 70º lugar mundial (de US$ 11.600
para US$ 8.802 per capita). Além disso, enquanto o PIB do mundo deverá crescer
3,1% em 2015, o Brasil afunda para um PIB de menos 3% no mesmo ano. Enfim, a
realidade brasileira nos confirma que o país não se preparou para aquilo que o economista-chefe
do FMI, Maurice Obstfeld, alerta: “...o mundo enfrenta hoje a encruzilhada de
três forças importantes: a transformação da economia chinesa, menos centrada em
exportações e investimentos e mais em consumo; a queda dos preços das commodities,
ligada à desaceleração da China; e a iminente ´normalização` da política
monetária dos EUA, que deve voltar a subir o juro”.