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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

MERCADO DA SOJA: NOVA REALIDADE

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
24/09/2015


A enorme desvalorização do Real nestes últimos 12 meses transformou totalmente a economia brasileira em geral e o mercado da soja em particular. No início da tarde do dia 22/09/2015 o mesmo havia batido o recorde histórico da era Real, iniciada em julho de 1994, atingindo a R$ 4,05 por dólar, tendo se desvalorizado, em um ano, 69,4%. Diante desse quadro, em meados de setembro os preços da soja ao produtor nacional obviamente registravam forte elevação. A média semanal gaúcha, em meados do mês, era de R$ 71,08/saco (câmbio ainda em R$ 3,95), enquanto os lotes ficavam entre R$ 79,00 e R$ 79,50/saco. Nas demais praças nacionais os lotes registravam R$ 68,50/saco no Nortão do Mato Grosso, chegando até R$ 76,50/saco no norte do Paraná. No ano passado na mesma época, o balcão gaúcho estava em R$ 53,31/saco, enquanto os lotes giravam entre R$ 57,85 e R$ 58,85/saco. Como já se anunciava desde o início de 2015, o câmbio é o responsável pela melhoria nos preços da soja. Isso porque o bushel de soja, em Chicago, entre meados de setembro de 2014 e meados de setembro de 2015, recuou 9,7%, passando de US$ 9,82 para US$ 8,84. Assim, não é o produto soja que está se valorizando e sim a forte desvalorização do Real que permite ganhos extraordinários com o preço do produto. Afinal, nos 12 meses considerados, o saco de soja no balcão gaúcho ganhou 33,3%, enquanto os lotes avançaram, em termos médios, 35,8%. Nas demais praças nacionais, o Nortão do Mato Grosso ganhou 26,8% em seus preços médios nos lotes (seu preço médio, um ano atrás, era de R$ 54,00/saco), enquanto o norte do Paraná, que registrava um preço médio de R$ 58,50/saco um ano antes, ganhou 30,8%. Esse comportamento confirma uma tendência constatada ao longo das últimas décadas: o câmbio no Brasil tem, geralmente, maior influência sobre o preço da soja nacional do que as próprias oscilações da oleaginosa na Bolsa de Chicago. O problema é que tamanha desvalorização cambial eleva proporcionalmente os custos de produção da safra de verão, os quais, neste período de 12 meses considerados, já subiram ao redor de 20% a 50%, dependendo do tipo de insumo e de sua localização. Como o Real já está sobredesvalorizado, pela paridade de poder de compra, considerando o mês de fevereiro de 1999 como ponto de partida (momento em que entramos no chamado câmbio flutuante), é natural que, passada a enorme turbulência econômica e política nacional que o país assiste no momento, o câmbio retorne a patamares mais racionais. Pela paridade citada os valores racionais seriam entre R$ 3,00 e R$ 3,10 por dólar. Ora, qualquer que seja o recuo do dólar, os preços da soja rapidamente irão acompanhá-lo enquanto os insumos agrícolas, pelo seu histórico, recuarão bem menos. Isso justifica a preocupação atual de que, mesmo diante destes excelentes preços, a futura safra de soja poderá resultar em pouca rentabilidade final (considerando custos de produção normais).  Para ganhar, nesse cenário, o produtor deverá obter o equivalente entre 55 e 65 sacos/hectare. Nunca foi tão importante a estratégia adotada na compra dos insumos e na venda da soja como a desta safra 2015/16. 

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