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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A IMPOSSIBILIDADE DO AJUSTE

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
03/09/2015

A pior notícia que os brasileiros poderiam receber neste início de setembro não é a confirmação de que estamos em recessão econômica, após o anúncio de um PIB de menos 1,9% no segundo trimestre de 2015. Tampouco a revisão para baixo nos PIBs dos trimestres anteriores (0,1% no 3T de 2014, 0% no 4T de 2014; e menos 0,7% no 1T de 2015). Também não é a projeção de que, nessa balada, teremos não só um PIB negativo no conjunto de 2015 (entre menos 2% e menos 3%), mas igualmente um PIB negativo em 2016 (hoje calculado em menos 0,4%), o que cristalizaria, pela primeira vez na história do país, desde 1930/31, dois anos consecutivos de recessão econômica (o que dá a dimensão da atual crise que vivemos). A pior notícia vem da incapacidade de o governo conseguir realizar o tão necessário ajuste fiscal. Os números das contas públicas referentes ao mês de julho corroboram tal preocupação. Em julho, as contas do governo federal (Tesouro Nacional, INSS e Banco Central) acusaram um rombo de R$ 7,22 bilhões, o pior resultado para o mês desde 1997 (início da série histórica). Em 12 meses (agosto/14 a julho/15) o déficit é de R$ 43,9 bilhões, ou 0,77% do PIB. E o quadro piora se incluirmos as demais instâncias estatais (Estados da Federação, municípios e empresas estatais, menos a Petrobrás e a Eletrobrás). No conjunto do setor público consolidado o déficit em julho passado foi de R$ 10 bilhões, sendo que nos 12 meses encerrados em julho/15 o mesmo sobe para R$ 51 bilhões, correspondendo a 0,89% do PIB. Com isso a dívida bruta interna brasileira já atinge a 64,6% do PIB, ou seja, R$ 3,68 trilhões (ao câmbio de hoje, um pouco mais de um trilhão de dólares). Ou seja, o setor público nacional continua gastando mais do que arrecada. Nesse quadro, está comprometido o tímido superávit primário de 0,15% do PIB, recentemente estabelecido para 2015. E o ajuste fiscal é fundamental para iniciarmos um processo de recuperação duradouro da economia nacional, mesmo que isso venha a partir de 2017/18. Nossa incapacidade de realizar o ajuste, e as reformas estruturais, alonga o processo de crise no país, sem expectativas dele sairmos por nossas próprias forças. Isso significa dependermos ainda mais dos capitais externos e de uma recuperação da economia mundial, ainda muito lenta, em um momento em que o chamado grau de investimento certamente será perdido caso se confirme o não cumprimento da meta fiscal. Como estamos alertando há meses, conviver com uma aguda recessão, porém, tomando o amargo remédio do ajuste fiscal para superá-la é uma coisa. Entrar em aguda recessão e resistir em tomar o devido remédio, gerando evidências de incapacidade em aplicá-lo, é caminhar para continuarmos afundando sem perspectivas de uma solução adequada. Esta, portanto, é a pior notícia deste início de setembro: a constatação, infelizmente, de que o segundo cenário está cada vez mais próximo de se concretizar. 

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