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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O PORÃO

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
27/08/2015


Uma expressão realista, atribuída ao presidente da Anfavea, entidade que representa os fabricantes brasileiros de veículos automotores, Sr. Luiz Moan, retrata muito bem a atual situação da economia brasileira: “no fundo do poço (da crise) ainda há um porão”. Ou seja, o tombo de nossa economia vai além do fundo do poço, o qual ainda nem foi alcançado. Isso explica a expectativa cada vez mais consensual de que a saída, em tudo se ajustando, será para 2017 (alguns economistas já avançam o ano de 2018), e assim mesmo de forma muito lenta. Os recentes números da situação fiscal brasileira, divulgados nesse mês de agosto, corroboram o quadro. Em primeiro lugar, o déficit primário das contas públicas atingiu R$ 45,7 bilhões em 12 meses terminados no último mês de junho/15, se estabelecendo em novo recorde negativo (0,8%) do PIB na série histórica iniciada em dezembro de 2001. Esse resultado se refere ao conjunto do setor público nacional (União, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobrás e Eletrobrás). Antes, o Tesouro Nacional havia informado que o governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) já havia registrado o maior déficit desde o primeiro semestre de 1997. Em segundo lugar, nesse contexto o país corre o risco de nem mesmo cumprir a meta de 0,15% do PIB em superávit primário para 2015 (receita menos despesa visando pagar o juro), já que o mesmo foi de apenas R$ 16,2 bilhões no primeiro semestre do ano (o menor resultado para o período desde 2001). Em terceiro lugar, diante de tal realidade e embora as agências de risco tenham nos dado um pequeno fôlego, ao recentemente rebaixarem pouco nossa nota, o fato é que o grau de investimento está em extremo perigo. Em quarto lugar, isso explica porque o governo central tenta, com enorme atraso, realizar o chamado ajuste fiscal, incluindo nele, finalmente, a meta de cortar na carne (a ideia de eliminar pelo menos 10 ministérios entra nesse quadro). Longe de ser suficiente, trata-se de um passo importante rumo à solução se o processo for bem gerenciado, algo que faltou aos governos desse país desde, pelo menos, 2007. Em quinto lugar, nesse sentido tem razão o ministro Levy ao afirmar que o ajuste fiscal não é a causa da crise. Na verdade, se o mesmo for bem executado, sem privilégios específicos e sim em favor da Nação brasileira, tal ajuste é uma das soluções para a crise. Enfim, é admirável que determinados segmentos sociais e do poder político brasileiro se posicionem contra o mesmo. Esses, assim agindo, continuam olhando no retrovisor e pensando apenas em salvar a si mesmos, após terem por longo tempo apoiado os gestores do desastre. O pior dos mundos para o povo brasileiro é esse tipo de atitude superar o bom senso e impedir as correções necessárias. Isso será sinônimo de uma crise em L, ou seja, uma queda brusca que já é nossa realidade, seguida de um longo período no porão, caracterizado por uma estagnação consistente e um empobrecimento generalizado da população. 

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