Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
11/06/2015
Quando
a crise econômico-financeira de 2007/08 eclodiu no mundo o capital privado se
retirou do cenário de investimentos rapidamente. Para impedir que suas
economias parassem, gerando forte desemprego e crises sociais agudas, os
governos optaram pela injeção de recursos públicos no mercado. Ocorre que
muitos países já se encontravam em situação de crise fiscal, gastando
historicamente mais do que arrecadavam. Alguns ultrapassando o teto de 100% do
PIB em endividamento público. Tal realidade acabou acelerando as dificuldades,
levando esses países a “quebrarem”, caso da Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal
e outros tantos. O Brasil não escapou desta lógica. Todavia, o problema não é
tanto a estratégia usada mas sim sua forma de execução. Para que a mesma dê resultados
sem comprometer a economia do país, as vantagens e apoios dados por um lado
devem ser compensados com cortes de despesas pelo outro lado. Ora, nosso país
não fez isso, assim como a maioria de seus Estados (ver o caso do Rio Grande do
Sul). Com isso, citando o presidente do Banco Central brasileiro Alexandre
Tombini “...a política fiscal adotada pelo governo federal desde 2008 não
apenas foi ineficaz para gerar crescimento, como também comprometeu a economia
do país...”(ZH,27/05/2015,p.10). Ou seja, o governo, irresponsavelmente,
ignorou as medidas prudenciais a respeito e passou seis anos gastando ainda
mais do que podia, diminuindo a arrecadação através de isenções fiscais, não
cortando despesas públicas na outra ponta (pelo contrário, as aumentou) etc.
Como qualquer ente econômico, uma política suicida deste tipo um dia provoca um
estouro nas contas, gerando uma crise ainda maior a que se tentava evitar. É
nesse estágio que o Brasil se encontrava ao iniciar 2015. Percebendo o
gravíssimo erro cometido, o governo reverte a lógica, procurando restabelecer o
ajuste fiscal e recriar os chamados “colchões de proteção fiscais”. Daí o
aumento de impostos, os reajustes dos preços administrados, os cortes de
crédito, o aumento de juros, o corte no orçamento e outras tantas medidas.
Todavia, nem todos ainda aceitam a realidade. Os poderes legislativo e
judiciário, por exemplo, continuam gastando e ganhando benesses como se nada
houvesse. Nada mais fazem do que infligirem ainda mais custos sobre os
cidadãos, chamados a pagar a conta do descalabro público, como sempre nestes
casos. A realidade é assustadora? Sim, é e não deve ser ignorada, pois o
tamanho do rombo, e as resistências de grupos políticos e sociais às correções,
nos indicam que teremos alguns anos de grandes apertos pela frente até os
ajustes (que devem ser acompanhados de reformas estruturais) darem resultados
adequados. Tudo isso desde que o executivo federal se mantenha no propósito de,
finalmente, fazer esse “dever de casa”, não cedendo às pressões contrárias.