Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
21/05/2015
Era
uma questão de tempo! Como em todos os lugares do mundo, quando se
artificializa um mercado o mesmo gera uma bolha positiva de crescimento e, mais
adiante, estoura por falta de sustentação, pois a economia tende a voltar à
realidade, além da relação entre oferta e demanda naturalmente se ajustar. Aqui
no Brasil não está sendo diferente. Após os automóveis e a chamada linha
branca, é a vez do estouro da bolha imobiliária. Prevista por muitos e ignorada
por tantos, a mesma começa a fazer estragos na economia. Além disso, como tal
bolha foi gerada por crédito público, num contexto de déficit fiscal agudo, a
ação corretiva do governo, tornando mais difícil tal crédito, além de elevar os
juros, cristaliza o artificialismo do processo e piora o quadro de ajustes no
setor. Também pudera, e se preveniu isso há anos, não há como um setor se
sustentar quando um terreno chega a valer mais do que o próprio prédio (imóvel)
sobre ele construído. Sem falar nos preços de terrenos e imóveis que, de uma
hora para outra, no embalo passageiro de uma economia que crescia turbinada por
recursos públicos sem sustentação, quintuplicaram, para dizer o mínimo. Agora,
o setor terá que conviver com os profundos ajustes que começam a ocorrer. Em
primeiro lugar, menos crédito para o setor. Em segundo lugar, crédito mais caro
e seletivo. Em terceiro lugar, consumidores endividados (muitos inadimplentes),
sem fôlego para pagarem as despesas que assumiram. Em quarto lugar, uma oferta
maior do que a demanda com capacidade para comprar sem dinheiro público fácil.
Em quinto lugar, o setor da construção civil parando, com demissões em massa. Somente no
Rio Grande do Sul, para 2015, projeta-se a demissão de 40.000 trabalhadores
neste setor. Em sexto lugar, imóveis e terrenos se desvalorizando, ou melhor,
retornando aos preços lógicos de uma economia sem recursos para esbanjar.
Enfim, perda enorme de receitas para quem especulou no setor, no momento da
alta, e agora não tem como repassar o imóvel a preços que possam compensar o
investimento. O lado positivo de tudo isso está na lição de que a prática
confirmou o risco de se apostar em bolhas de crescimento, pois as mesmas são
passageiras (quem se prepara para isso, ganha). Ao mesmo tempo, os imóveis
voltam, aos poucos, aos padrões financeiros de uma população que nunca foi rica
o suficiente para sustentar a disparada de preços no setor. Além disso, quem
deixou para comprar imóveis e terrenos a partir de agora, poderá comprar mais
barato, pois o quadro de ajustes para baixo apenas está começando. Tanto é
verdade que até mesmo o programa social Minha Casa Minha Vida está sendo
atingido pelos ajustes. Pelo menos é o que se depreende do discurso oficial em
torno do corte de R$ 78 bilhões no orçamento da União para 2015, a ser anunciado
nestes próximos dias de maio. Poderia ter sido diferente, mas isso já se
comentou diversas vezes neste espaço.