Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
26/03/2015
O Brasil está em plena colheita da nova
safra de soja. No Rio Grande do Sul, cerca de 20% da área já está colhida e,
apesar da ferrugem asiática e a falta de chuvas em março, ainda se espera um
recorde de produção ao redor de 14 milhões de toneladas. Enquanto isso, até
meados de março, os produtores brasileiros haviam comercializado
antecipadamente 43% da safra, contra 59% na média histórica da época. No Estado
gaúcho as vendas antecipadas atingiam a 23%, contra 36% na média histórica. Na
verdade, os produtores deveriam estar aproveitando mais os preços atuais, na
lógica de realizarem média de comercialização, pois nada permite afirmar que o
preço continue subindo, pois o mesmo depende exclusivamente do câmbio nestes
últimos dois meses. E quando se fala em câmbio, diz-se desvalorização do Real.
Ou seja, é graças a desvalorização de nossa moeda que os preços da soja se
elevaram nas últimas semanas. Senão vejamos: 1) o bushel de soja em Chicago,
entre o início de julho/14 e meados de março de 2015, recuou 36,4%. E se
tomarmos o recorde de preço ocorrido em setembro de 2012, o recuo já é de
46,1%; 2) ao mesmo tempo, o Real brasileiro se desvalorizou 47,5%, alcançando a
média R$ 3,26 por dólar em meados deste mês de março, contra R$ 2,21 no início
de julho de 2014; 3) nessas condições o preço da soja atingiu a média de R$
63,77/saco no balcão gaúcho em meados de março, contra R$ 66,01/saco no mesmo
período de 2014; 4) o quadro poderia ser outro na atualidade, pois aos valores
atuais de Chicago, caso o câmbio tivesse ficado em R$ 2,45 (média de
outubro/14), o valor do saco de soja hoje estaria ao redor de R$ 46,00, ou
seja, R$ 17,77/saco a menos do que a média atual; 5) por sua vez, caso o câmbio
tivesse permanecido na média de janeiro/15 (R$ 2,63), o preço de balcão gaúcho,
neste meados de março, estaria em R$ 49,50/saco, ou seja, R$ 14,27 a menos por saco do
que o praticado no momento. Dito de outra forma, a disparada cambial dos
últimos 50 dias está salvando o preço da soja na atual safra. Até quando isso
poderá durar? É difícil responder, porém, considerando que Chicago pouco se
altere (salvo se o relatório de intenção de plantio nos EUA, previsto para o
próximo 31/03, trouxer surpresas, ou que ocorra problemas climáticos naquele
país), é de bom alvitre esperar que o câmbio, no Brasil, retorne a patamares
considerados “normais” pela paridade de poder de compra, na medida em que os
motivos político-econômicos diminuam de intensidade. Hoje, tais patamares
indicam um valor ao redor de R$ 2,90 por dólar. A esse câmbio, em o restante se
mantendo constante, o preço da soja no balcão gaúcho estaria ao redor de R$
53,50/saco, ou seja, cerca de R$ 10,00 a menos do que estava em meados deste mês
de março.