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sexta-feira, 20 de março de 2015

REAL MUITO DESVALORIZADO



Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
19/03/2015

Na atual conjuntura cambial brasileira, a única certeza que se pode ter, a partir do modelo de paridade de poder de compra, é que o Real já se desvalorizou demais em relação ao dólar ao bater em R$ 3,25 em meados de março. Hoje, o valor plausível para a nossa moeda, considerando a inflação brasileira e estadunidense entre 1999 (ano em que o câmbio passou a ser flutuante no país) e 2015 seria um valor entre R$ 2,75 e R$ 2,90 por dólar. Todavia, há uma série de componentes que levam a esta forte desvalorização que, no meu entender, não pode durar muito devido à pressão inflacionária que causa, embora seja benéfica às exportações. Se é verdade que o dólar se fortaleceu no cenário internacional, levando as demais moedas a se desvalorizarem, graças a recuperação que vem ocorrendo na economia dos EUA depois do impacto da grande crise de 2007/08, também é verdade que, em relação a moedas similares, o Real se desvalorizou muito mais. Assim, grande parte da atual desvalorização se deve a fatores econômicos internos ao Brasil. O primeiro deles está no fato de que o país precisa realizar os ajustes fiscais e econômicos em geral, com profundidade, e o cenário político atual, que evidencia um governo muito fraco, coloca em dúvida a nossa capacidade em realizar tais ajustes, havendo ainda a preocupação com a possibilidade de perdermos o grau de investimento. O segundo elemento está no fato de que, apesar dos esforços do ministro Levy, ele não possui o devido apoio político, particularmente do Congresso Nacional, para fechar as reformas a contento. Muitos dos congressistas, envolvidos com os escândalos de corrupção, para tentarem se salvar, começam a impor condições para votar as leis ligadas ao ajuste fiscal. Tais ajustes não sendo votados, não viram leis, e acabam não se consolidando, o que fragiliza a economia e a moeda. Um terceiro ponto está no fato de o Banco Central brasileiro já ter comprometido US$ 120 bilhões de nossas reservas, em swap, para segurar o câmbio nos dois anos passados, além de ter uma dívida de US$ 70 bilhões relacionada a isso. Hoje existe uma reserva líquida de tão somente US$ 110 bilhões. Assustado com isso e preocupado com a necessidade de não comprometer o restante, o governo informou ao mercado que não irá aumentar a defesa do Real. Soma-se a isso o fato de que os brasileiros continuam gastando mais dólares no exterior, em viagens e turismo, do que os estrangeiros gastam aqui no país. Esse saldo negativo, que ficou em US$ 18,6 bilhões em 2014 (um recorde histórico), força ainda mais o Real no caminho da desvalorização, pois sai mais dólares do que entra. Enfim, nossa balança comercial está negativa, ou seja, também pelo comércio exterior, mesmo com um câmbio nesses níveis, o Brasil importa mais do que exporta (em 2014 o déficit superou US$ 3,0 bilhões e nos primeiros 70 dias de 2015 o déficit já é de US$ 6,06 bilhões). 

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