Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
19/03/2015
Na atual conjuntura cambial brasileira,
a única certeza que se pode ter, a partir do modelo de paridade de poder de
compra, é que o Real já se desvalorizou demais em relação ao dólar ao bater em
R$ 3,25 em meados de março. Hoje, o valor plausível para a nossa moeda,
considerando a inflação brasileira e estadunidense entre 1999 (ano em que o
câmbio passou a ser flutuante no país) e 2015 seria um valor entre R$ 2,75 e R$
2,90 por dólar. Todavia, há uma série de componentes que levam a esta forte
desvalorização que, no meu entender, não pode durar muito devido à pressão
inflacionária que causa, embora seja benéfica às exportações. Se é verdade que
o dólar se fortaleceu no cenário internacional, levando as demais moedas a se
desvalorizarem, graças a recuperação que vem ocorrendo na economia dos EUA
depois do impacto da grande crise de 2007/08, também é verdade que, em relação
a moedas similares, o Real se desvalorizou muito mais. Assim, grande parte da
atual desvalorização se deve a fatores econômicos internos ao Brasil. O
primeiro deles está no fato de que o país precisa realizar os ajustes fiscais e
econômicos em geral, com profundidade, e o cenário político atual, que
evidencia um governo muito fraco, coloca em dúvida a nossa capacidade em
realizar tais ajustes, havendo ainda a preocupação com a possibilidade de
perdermos o grau de investimento. O segundo elemento está no fato de que,
apesar dos esforços do ministro Levy, ele não possui o devido apoio político,
particularmente do Congresso Nacional, para fechar as reformas a contento.
Muitos dos congressistas, envolvidos com os escândalos de corrupção, para
tentarem se salvar, começam a impor condições para votar as leis ligadas ao
ajuste fiscal. Tais ajustes não sendo votados, não viram leis, e acabam não se
consolidando, o que fragiliza a economia e a moeda. Um terceiro ponto está no
fato de o Banco Central brasileiro já ter comprometido US$ 120 bilhões de
nossas reservas, em swap, para segurar o câmbio nos dois anos passados, além de
ter uma dívida de US$ 70 bilhões relacionada a isso. Hoje existe uma reserva
líquida de tão somente US$ 110 bilhões. Assustado com isso e preocupado com a
necessidade de não comprometer o restante, o governo informou ao mercado que
não irá aumentar a defesa do Real. Soma-se a isso o fato de que os brasileiros
continuam gastando mais dólares no exterior, em viagens e turismo, do que os
estrangeiros gastam aqui no país. Esse saldo negativo, que ficou em US$ 18,6
bilhões em 2014 (um recorde histórico), força ainda mais o Real no caminho
da desvalorização, pois sai mais dólares do que entra. Enfim, nossa balança
comercial está negativa, ou seja, também pelo comércio exterior, mesmo com
um câmbio nesses níveis, o Brasil importa mais do que exporta (em 2014 o
déficit superou US$ 3,0 bilhões e nos primeiros 70 dias de 2015 o déficit
já é de US$ 6,06 bilhões).