Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
12/03/2015
A inflação brasileira vem subindo já há
alguns anos. Até meados do ano passado (2014) a mesma era fruto de um aumento
na demanda, estimulada pelo próprio governo, através de medidas de apoio ao
consumo (isenções tributárias, juro baixo, crédito farto, subsídios...). O
problema é que tudo isso ocorreu sem termos infraestrutura adequada para darmos
conta do aumento desse consumo. O resultado foi uma inflação por demanda.
Colaborou para tal, a perda de credibilidade do governo brasileiro,
cristalizada em 2012 devido a maquiagem dos dados fiscais e econômicos. Com
isso, a moeda brasileira passou a sofrer um processo de desvalorização mais
acentuado onde nem mesmo a ação do Banco Central brasileiro conseguiu contê-la.
Como importamos de tudo, inclusive combustíveis, os preços internos subiram.
Soma-se ao quadro o déficit público em crescimento, que tornou o Estado um
alimentador desta inflação. Entretanto, a partir das eleições de outubro de
2014 algumas coisas mudaram. No caso da inflação, a mesma deixou de ser de
demanda, pois o consumo travou devido ao forte endividamento e inadimplência
das pessoas e empresas, passando a refletir o aumento dos custos de produção no
Brasil. Isso porque o Estado passou a reajustar os preços administrados, caso
da energia elétrica, combustíveis etc (até então contidos artificialmente), em
função do necessário ajuste fiscal. Ao mesmo tempo, a oferta de tais insumos
entrou parcialmente em colapso, dentre outras coisas, por falta de
investimentos. Com isso os preços no Brasil subiram ainda mais rapidamente,
estourando o teto da meta oficial (6,5%), ao alcançar em fevereiro/15, de forma
anualizada, 7,7% quando o objetivo sempre foi o centro da meta (4,5%). Para
piorar o quadro há uma clara discrepância entre a inflação oficial e o que realmente
os brasileiros estão sentindo no bolso. Esta inflação real gira entre 15% a 20%
ao ano nesse momento. Nesse contexto, no curto prazo sobra para o governo, para
segurar os preços, o aumento dos juros (Selic), hoje em 12,75% ao ano. Esse
processo deve continuar por algum tempo, pois haverá novos reajustes de
combustíveis e energia elétrica, com suas consequências sobre o frete, o custo
empresarial, agrícola etc... Ou seja, está cada vez mais evidente que a
inflação oficial fechará 2015 bem acima do teto da meta. Por enquanto, se
projeta algo entre 7% e 8% no ano. Isso, mesmo com os juros subindo. A Selic,
provavelmente, irá terminar o ano acima de 13% anuais. E o pior é que a
economia está estagnada, em recessão neste momento, o que sinaliza uma estagflação
desastrosa para o país. Como sempre se soube, aventuras populistas acabam
custando muito caro para a sociedade, atrasando o país, quando não o afundando em crises. Mesmo assim,
nos últimos anos o governo brasileiro insistiu em realizá-las, mirando a
reeleição. A conta chegou!