Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
05/03/2015
Vimos,
no artigo passado, que a crise econômica brasileira se cristaliza em recessão,
levando ao desemprego de um lado e à geração de empregos com baixos salários de
outro lado. Esta queda no poder aquisitivo leva as diferentes bolhas
(automóveis, construção civil etc...) a estourarem mais rapidamente, gerando um
efeito dominó. Isso porque os ajustes agora iniciados visam, finalmente,
reduzir os gastos públicos e recuperar o poder de participação do Estado
brasileiro na economia. Muitos outros países estão nesta mesma situação. Quem
não o fizer, afunda definitivamente e fica alijado do contexto econômico
internacional. Como nosso governo não soube controlar seus gastos, gerando até
mesmo um déficit primário em 2014, fazê-lo agora requer mudanças das regras que
regem a concessão de despesas na área social. E isso coloca metade da população
num estado potencial de aumento de pobreza, pois viveu, nestes últimos anos,
sustentada por tais gastos sociais, muitos travestidos de “bolsas”, sem a
contrapartida de corte em outras despesas públicas. “Assim, se não quisermos
pagar mais impostos, a sociedade brasileira terá de chegar a um consenso para
diminuir radicalmente os subsídios concedidos por bancos públicos e modificar
as regras que determinam o crescimento de alguns dos gastos sociais e da
Previdência.” (cf. Mansueto Almeida, Folhapress, retomado no jornal O Sul,
04/01/2015, p.4) O ajuste no seguro-desemprego, que os sindicatos querem
barrar, passa por aí. “Se não chegarmos ao consenso, a solução virá mais uma
vez de novos aumentos da carga tributária (que já bate em 37% do PIB anual),
com reflexo negativo sobre nossa competitividade.” Ora, para o atual nível de
desenvolvimento a carga tributária que temos já é de país desenvolvido, porém,
tendo como retorno serviços públicos de terceiro mundo. Ninguém mais agüenta
tal realidade! Assim, os ajustes são fundamentais, mesmo que a realidade
econômica nacional ainda venha a piorar nestes próximos meses por conta deles.
Infelizmente teremos que passar por esse momento recessivo se quisermos
melhorar (talvez a partir de 2017). O tamanho da piora está no fato de que
nossos governantes deixaram a situação ir muito longe, levando, agora, a um
maior tempo para se corrigir os problemas. Nesse sentido, o maior risco
nacional ainda será se, pressionado pelos interesseiros de plantão na área
política, e pela sociedade que paga a conta, o governo volte atrás e estanque
os ajustes na economia. Nesse último caso, não haverá horizonte para sairmos da
crise em que a incompetência da gestão pública nos colocou nestes últimos anos.