Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
CEEMA/DACEC/UNIJUI
24/11/2014
As cotações
do trigo em Chicago se recuperaram um pouco nestes últimos 45 dias. Após
atingirem a US$ 4,74/bushel (27,21 quilos) no final de setembro passado, as
mesmas chegaram a US$ 5,60 no dia 14/11, ganhando quase um dólar por bushel. A
expectativa de maior demanda pelo trigo estadunidense, associada a redução
parcial na safra australiana, trouxe certo ânimo ao mercado. Mas o mercado
externo parece não estar disposto a pagar muito mais do que estes valores pelo
cereal. Mesmo porque, segundo o USDA, a produção mundial para 2014/15 continua
com estimativa elevada (719,9 milhões de toneladas), com os estoques finais mundiais
do cereal passando a 192,9 milhões de toneladas. Apesar da melhoria dos preços
internacionais, isso não foi suficiente para melhorar os preços do trigo no Rio
Grande do Sul nesse final de colheita. Além da expectativa de uma safra
argentina ao redor de 12 milhões de toneladas, após 9 milhões no ano anterior,
a forte quebra da safra gaúcha traz consigo uma péssima qualidade do produto
colhido em boa parte do Estado. Após 79% da área colhida, o Rio Grande do Sul
registrava uma perda de 45,8% em sua produção física, devendo ficar com uma
colheita de apenas 1,8 milhão de toneladas no final, sendo que aí se tem muito
produto com baixa qualidade. Nesse contexto, a produção nacional estimada fica
agora em 6 milhões de toneladas, contra uma expectativa inicial de 7,8 milhões.
Diante disso, ao invés de reagirem, os preços médios, que já eram baixos,
recuaram um pouco mais. O preço médio semanal do saco de trigo no Rio Grande do
Sul, na semana passada, chegou a R$ 24,72 (cf. Emater). Os lotes, de qualidade
superior, ficaram entre R$ 27,60 e R$ 28,20/saco. Já no Paraná, aonde a
colheita chegou a 96% da área e a produção final continua estimada em 3,87
milhões de toneladas, os preços do produto superior fecharam a semana entre R$
33,00 e R$ 34,80/saco. A situação poderia ser ainda pior se não fossem os
leilões de Pepro organizados pelo governo. Em síntese, o mercado gaúcho do
trigo efetivamente está muito difícil. Quando a produção foi boa e de
qualidade, nem mesmo a quebra de safra no Paraná permitiu preços elevados (caso
do ano passado). Pelo contrário, os mesmos recuaram fortemente e sobrou produto
em estoque até hoje. Quando a produção é ruim, os preços permanecem baixos
porque a qualidade do produto mal chega ao nível de triguilho (ração animal).
Ou seja, se não fosse o crédito oficial para a planta de trigo, que oferece
liquidez aos produtores entre uma safra de verão e outra, dificilmente a
produção do cereal se manteria nestes níveis no Rio Grande do Sul.