Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
04/09/2014
Pelo lado chinês, o
acordo do gás feito entre a russa Gazprom e a China National Petroleum Corp
(CNPC), poderá reduzir sua dependência para com o carvão, de efeitos desastrosos
ao meio ambiente e para a saúde pública, aumentando assim a sua competitividade
industrial. Pelo lado russo, primeiro produtor mundial de gás, tal contrato lhe
permite a consolidação de um mercado sem precedentes, aliviando sua difícil
situação com a União Europeia devido ao problema ucraniano. Afinal, dentre as
represálias europeias está a redução ao máximo da importação do gás russo, hoje
representando 25% de seu consumo total de gás. Ao mesmo tempo, Gazprom terá
recursos para investir US$ 55 bilhões na exploração de duas grandes fontes de
gás na Sibéria oriental, além de construir um gasoduto até a fronteira chinesa.
Assim, o gás que não encontrará mercado na Europa poderá muito bem ser
direcionado para a China, reforçando a relação econômica entre este país e a
Rússia. Nesse contexto, e não tendo ainda uma fonte alternativa adequada
(principalmente porque a Alemanha, e logo mais outros países europeus, já
definiu que abandonará a energia nuclear até 2025), a União Europeia revê sua
postura e procura evitar que uma nova “guerra do gás” venha a ocorrer, onde o
corte de fornecimento do insumo e/ou uma forte alta dos preços do mesmo possam
acontecer. Isso tiraria radicalmente a competitividade de sua produção
industrial, colocando em risco os empregos locais, o crescimento econômico e o
bem-estar social existente. Por sua vez, ainda pelo lado russo, o acordo feito
com os chineses lhe permite fazer frente ao gás de xisto que os EUA estão
desenvolvendo e pretendem, com o tempo, vender ao mundo em geral e
particularmente aos europeus. Para tanto, um problema precisa ser superado: o
gás de xisto estadunidense seria até duas vezes mais caro do que o gás entregue
pelos gasodutos russos. Pelo sim ou pelo não, o fato é que o gás de xisto dos
EUA pode aumentar o poder da indústria manufatureira deste país e desafiar o
alcance da Rússia nesta matéria. Assim, o mundo está assistindo a construção de
um novo mapa do poder econômico global. Nessa nova geopolítica mundial, o
Brasil vê cada vez mais distante a possibilidade de exploração plena de seu
pré-sal na medida em que a Petrobrás definha, por decisão governamental nestes
últimos anos, subsidiando o consumo interno de petróleo e derivados para que se
viabilize a estratégia, já superada, de alavancar a economia nacional pela
venda de veículos automotores.