Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
(CEEMA/DACEC/UNIJUI)
15/03/2014
FÓRUM DA SOJA: O BRASIL EM
RISCO
Por ocasião da Expodireto
Cotrijal deste ano tivemos o 25º Fórum Nacional da Soja. Dentre os diversos
assuntos de importância ali debatidos, um destaca-se aqui a partir da
tradicional Carta do Fórum, divulgada sempre no seu encerramento. O mesmo vai
ao encontro do que estamos alertando há meses, em uma perspectiva de médio
prazo. Segundo o palestrante Alexandre Englert Barbosa, economista-chefe do
Banco Cooperativo Sicredi, o mundo desenvolvido se encontra em recuperação da
crise econômico-financeira de 2007/08. Todavia, a normalidade destas economias
se dará em outro contexto daqui em diante. Nesse quadro, os países emergentes irão
sofrer mais, porém, de forma assimétrica. Enquanto o mundo deverá crescer 3,7%
em 2014 e 4,1% em 2015, segundo o FMI, os EUA deverão se aproximar do
crescimento observado entre 2004-2007, a região do Euro ainda registrará uma
reação econômica muito baixa, enquanto a China assistirá a um recuo de 12% para
7% em seu crescimento médio anual. Quanto ao Brasil, com um crescimento baixo e
ajuste fiscal insuficiente, o país apresenta um reduzido crescimento e está em risco. Afinal , nosso
país, de 2011 em diante registra um descolamento
em relação ao crescimento mundial, ficando aquém da média mundial. E a
recuperação das economias desenvolvidas não resolverá a situação. Especialmente
porque a recuperação dos EUA, por exemplo, eleva a taxa de juros de seus
títulos públicos, fato que altera a circulação do capital internacional,
fazendo-o se destinar em maior volume para os países ricos. Isso deixa os
emergentes, e particularmente o Brasil, com menor liquidez, fragilizando suas
economias. É isso que nos leva a fazer parte, neste início de 2014, do grupo de
países batizado de “vulneráveis”, e não há perspectiva no médio prazo de
sairmos do mesmo.
FÓRUM DA SOJA: O BRASIL EM
RISCO (II)
Nesse contexto, a taxa de câmbio no Brasil
deverá manter um processo de desvalorização do Real. Para enfrentar tal
problema o país terá que fazer um importante ajuste fiscal, acompanhado de um
aumento ainda mais expressivo de sua taxa básica de juros. Todavia, tal ação
parece não ser o objetivo imediato do governo. Em sendo assim, a taxa cambial
brasileira deverá fechar o ano em R$ 2,55 e para o final de 2015 se estabelecer
ao redor de R$ 2,65. Quanto à inflação e
os juros, se o objetivo oficial for trazer a primeira para o centro da meta, ou
seja, 4,5% ao ano, a Selic terá que ser elevada para 11% neste ano (talvez um
pouco mais) e para 12,25% em 2015. Em tal contexto, o crescimento da economia
brasileira, para melhorar, terá que superar uma série de desafios. No que diz
respeito aos desafios conjunturais, tem-se: o crédito moderado; o
comprometimento da renda e o alto endividamento do consumidor (45% da
população); a recuperação mundial com a consequente desvalorização do Real; a
taxa de juros em alta com efeitos defasados; a confiança em queda; a dívida
bruta elevada (beirando os 60% do PIB) com grande necessidade de ajuste fiscal;
a baixa poupança, após forte incentivo ao consumo (o modelo de crescimento
calcado no consumo interno se esgotou, a tal ponto que as vendas no varejo
recuaram para apenas 4,4% em 2013, se constituindo no pior resultado nos últimos
10 anos); e a redução da liquidez mundial.
FÓRUM DA SOJA: O BRASIL EM
RISCO (III)
Quanto aos fatores estruturais a serem
enfrentados, tem-se: a redução no número de pessoas no mercado de trabalho e/ou
dispostas a trabalhar devido a menor natalidade e a baixa qualificação; a
precária infraestrutura nacional, elevando o chamado custo-Brasil; a falta de
energia elétrica (há forte risco de racionamento de energia por questões
naturais, mas particularmente por falta de investimentos em infraestrutura no
setor); e a baixa produtividade. Sem vencer tais gargalos nosso crescimento
ficará por muito tempo entre 1,5% e 2,5% anuais, o que é largamente
insuficiente para as necessidades do país (aliás, o que vem salvando o
crescimento do país é o agronegócio, graças às boas safras agrícolas). Para
melhorar as perspectivas de crescimento o país deve voltar, urgentemente, a
respeitar o tripé que consolidou a estabilidade da economia, posto em prática
em 1999: superávit primário; meta inflacionária; câmbio flutuante. Soma-se a
isso a necessidade de um ajuste fiscal profundo, com melhoria da qualidade do
sistema educacional, acompanhado de uma maior participação do setor privado em
obras de infraestrutura já que o Estado não tem condições de executá-las.
Enfim, criar um ambiente de segurança jurídica para o empreendedorismo.