Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
20/03/2014
Em
tempos de declaração de renda, é importante sabermos que os governos têm
penalizado os brasileiros ao não corrigirem a tabela do Imposto de Renda pela
inflação. Para este ano, enquanto a tabela foi corrigida em 4,5%, a inflação
oficial ficou em 5,9%. Desde 1996 a
inflação acumulada é 60% maior do que o ajuste nas alíquotas. Ao fazer isso, a
Receita concentra cada vez mais renda para si, além de incluir mais pessoas
entre os obrigados a fazer a declaração de renda e reduzir a restituição para
os que têm direito à mesma (isso quando não retarda ao máximo a restituição
para fazer caixa temporário). Hoje essa artimanha custa, no acumulado, R$ 35
bilhões anuais aos brasileiros. Para se ter uma ideia do jogo oficial sobre a
renda dos brasileiros, em 1996 estava isento do IR quem recebia até 8,04
salários mínimos. Em 2014, quem receber 2,48 mínimos já terá que declarar IR (cf.
ZH 31/12/13-01/01/14, p. 18). É um dinheiro que é retirado dos contribuintes
indevidamente, para dizer o mínimo. É um dinheiro que deixa de circular na
economia nacional e vai rechear os cofres públicos sem o devido retorno em
serviços públicos. Pelo contrário, grande parte deste dinheiro serve para
manter a máquina pública inchada e ineficiente, é desviado pela corrupção, e/ou
vai para projetos privados e específicos, como o Estádio Itaquerão, em São Paulo , construído
para a abertura da Copa do Mundo e que ficará, depois, para o Corinthians,
clube do ex-presidente Lula. Paralelamente, o empreguismo corre solto na esfera
pública nacional. Recente pesquisa do IBGE mostra que entre 2012 e 2013 o
número de servidores concursados sofreu uma redução de apenas 0,3% nos 26
Estados brasileiros e no Distrito Federal, enquanto o número de comissionados
(os conhecidos CCs) aumentou em 13,6% nos cargos com vínculo permanente e 10,7%
no quadro de estagiários. A incompetência pública nacional é tanta,
particularmente nos últimos tempos, que os próprios governantes afirmam que “...apenas
com os servidores de carreira, que desfrutam de inúmeras prerrogativas e têm
estabilidade, é quase impossível fazer a administração funcionar.” Ou seja,
trabalhamos e pagamos imposto de renda para sustentar essa confessa ineficiência
estatal. Obviamente quem é favorecido por tal situação não tem nenhum interesse
em que se realize uma reforma administrativa no país e/ou uma reforma
tributária que corrija o descalabro. Enfim, prova de que a educação não é
prioritária no Brasil, a Receita Federal permite apenas que se deduza R$ 3.230,46
com despesas anuais nesse setor. Em países como o México, por exemplo, até o
transporte escolar pode ser abatido do que se paga ao IR. Há algo de podre no
Brasil e já faz algum tempo!